segunda-feira, 10 de abril de 2017

425 - JULGUEI-TE JÁ NO MONTE DE S. GENS *



JULGUEI-TE JÁ NO MONTE DE S. GENS  * …

Quem sabe um dia não lhe poriam Bento ? 
Ou Sofia ?


Esvoaçam gulosas as abelhas,
p’los campos e p’los montes,
elegendo lírios e flores de giesta,
num hino à vida, tal qual dois amantes.

Amantes para quem são um sonho os montes,
ou um monte, amor e uma cabana,
o devir, os momentos, os instantes,
onde descansem de sonho ou fantasia insana.

Até mesmo na cozinha, o pote, o mel,
finalmente crestado, lambido, xupado,
as cortinas das janelas um dossel,
a pele de carneiro baldaquino improvisado.

De joelhos se saciam no virgo néctar,
se embebedam, se enleiam, quais fiéis devotos,
cada um erguendo ao outro um altar,
mármore, 
mar de papoilas onde pousam gafanhotos.

Voam saciadas as abelhas,
sulcando as terras,
p’los montes e p’los campos,
par a par, olhando-se, parelha
rasgando horizontes amplos.

E quem sabe, um dia, 
se desse enxerto nascerá rebento,
chamado Bento,
ou da enxertia uma menina, 
a quem poriam Sofia. 

* Humberto Baião - Évora, 7 de Abril de 2017