terça-feira, 30 de maio de 2017

000 435 - DE ANGOLA A CONTRAGOSTO…..........


No momento crucial a Tv apagou-se e, aleatoriamente começou saltando canais, por momentos pensei ter-me sentado em cima do comando, mas não, estava ali ao lado onde sempre o deixo, pelo que lhe lancei a mão na esperança de repor a ordem no televisor e não perder pitada do programa pelo qual esperava havia mais de uma semana, uma reportagem sobre o 27 de Maio de 77 em Angola e que acabei por ver em péssimas condições num pequeno televisor que tenho na cozinha, em cima do frigorifico, ao qual tiro o som na hora das refeições e dos noticiários, e me ajuda a engolir algumas noticias e uma ou outra colherada mal mastigada. Porém perdi a melhor parte da reportagem, ainda que a tenha entendido mais ou menos, o que nem foi difícil.

O plasma que avariara tinha já três ou quatro anos, tinha sido uma extravagância minha, sendo quase do tamanho de um campo de futebol, um espectáculo dispondo de quinhentos canais. Dispunha mas já não dispõe, ao mandá-lo reparar apercebi-me que a avaria era num deles, na placa que os controla, tendo-me o técnico dito ser coisa fácil de reparar e barata, comum naquele modelo. Um chante ligando o canal anterior e posterior ao avariado e a coisa estaria feita, eu que não me apoquentasse pois ainda ficaria com quatrocentos e noventa e nove canais.

- E esse chante não pode ser maior ? 

aventei eu a hipótese, farto de fazer zapping entre quinhentos canais dos quais alguns eram replicados mais de dez ou vinte vezes, fiz a pergunta na esperança de resolver ali esse outro nada pequeno problema.

- Poder ser pode, é só prolongar mais o fiozinho de solda do chante que percorrerá o circuito integrado, mas não ganha nada com isso, bem, olhe, mais caro também não lhe irá sair, aqui o freguês manda e o mestre diz que se deve albardar o burro à vontade do dono, ok, será feita a sua vontade, passe cá logo pelo fim da tarde.

Agradeci, solicitei então que fossem retirados quatrocentos canais, os cem ou noventa e nove que ficariam chegariam e sobrariam, seria até uma grande felicidade e maior gozo me proporcionaria. E cá está ele o belo e o bom plasma funcionando às mil-maravilhas e agora mais acessível e prático, tudo por uns meros quinze euritos.

Perdera mais, ou custara-me mais ter perdido parte da reportagem embora nada do que ela focou tivesse sido novidade para mim, ao fim e ao cabo a minha preferência e simpatia pelo MPLA terminara em 78, muito antes de findado o período negro que acabaria somente em 79, muito cedo me apercebera haver quem, para se manter no poder lançasse mão de todos os instrumentos e os fins justificassem os meios, como tal não admira que os resultados do massacre e os seus ecos cedo tivessem chegado até mim e me tivessem atingido, pois nele vi desaparecer dois parentes, ainda que não muito chegados. (a imprensa avocou cerca de 40.000 vítimas).

De qualquer modo os sms que nos últimos dias me têm feito chegar, as mensagens recebidas, as opiniões observadas, discutidas e trocadas, levam-me premonitoriamente a pensar estarmos perante um iminente episódio desses, uma vez mais destinado a manter no poder uma classe, uma casta, uma etnia, um clã, no caso uma família, já assim fora quando do massacre de Outubro de 92, em que no espaço de três dias, foram assassinados em Luanda milhares de apoiantes da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), pensa-se que terá havido dessa vez umas 20.000 vítimas. Parece estar a tornar-se um hábito, sempre que o poder tremelica o MPLA despoleta uma purga…

Bastará que o Zé Eduardinho se fine, bata as botas, a transição não foi preparada, o regime está podre de corrupto e caindo por todos os lados, os mecanismos democráticos não estão nem foram preparados para agir apesar dos supostos quarenta anos de democracia, na eventualidade que se avizinha vai ser cada um por si, todos ao molhe e fé em Deus, tal qual aprenderam connosco. O que me falha, por há décadas não ser um operacional é uma avaliação do poder militar e da força da UNITA e da FNLA, ou as apreensões que a Africa do Sul alimente ainda que tenha a Namíbia como tampão de segurança, ou os temores de contágio da Zâmbia e as ambições do Congo que têm com Angola fronteiras directas.

Com Angola desestabilizada por uma luta intestina pelo poder esses reflexos estender-se-ão por toda a Africa, central e do sul, e a norte, no enclave de Cabinda (petróleo) a sua Frente de Libertação endurecerá a luta armada de libertação contra o MPLA, ao qual faltará uma cabeça para dirigir a luta contra os elementos ”subversivos” de Cabinda, podendo ser esta a oportunidade para este movimento de libertação gritar vitória. Com a desestabilização será mais que certo fazerem-se ouvir e sentir as mais variadas repercussões e congregarem-se impensáveis relações de forças cujos interesses, até agora camuflados, só então se farão então ouvir.

Desta vez não tenho a menor dúvida de que cortarão a mão a Danilo dos Santos, o filho do Presidente angolano que arrematou há dias num leilão em Cannes um relógio por 500 mil euros, isto se com a pressa não lhe cortarem logo o pescoço. Vai ser uma chacina, ou o MPLA segura e aguenta a rebelião mal o presidente morra, ou numa manobra preventiva antecede o mais que previsível ataque despoletando ele a chacina, a purga, novo massacre. Desta vez não restará vivo nem um único membro da família Santos dos três meses aos noventa e nove anos. Soubesse eu a força militar ou militarizada das milícias do UNITA e da FNLA, sedentas de vingança, e dir-vos-ia já a magnitude do massacre que se aproxima.

Chamem-me o que quiserem mas preto é preto, aprenderam connosco mas são bem piores que nós, piores no sentido instintivo, primitivo, animalesco, primário, ora se nós já não somos flor que se cheire, imaginem o que está para vir… É que estes pretos ainda não atingiram nem sequer o nosso estádio de desenvolvimento ou de evolução, que nem é dos mais elevados…

Não meto um pé em Angola há mais de trinta anos, mas tenho a minha rede informal de informações e contactos que, embora formalmente inoperacional mal e porcamente vai contudo funcionando. Aos tugas que estão em Angola recomendaria umas férias na “metrópole” de três ou quatro anos e nunca menos, outra recomendação importante é que regressem já, quanto mais depressa possível tanto melhor, porque depois da coisa estoirar será impossível, ninguém conseguirá entrar ou sair do país, fazer sair dinheiro então é melhor nem pensar, arriscar-se-ão a ser presos e quem sabe se posterior e secretamente abatidos por traição se o tentarem fazer, mais vale perder pouco que tudo, que muito, ou a vida. Vinde já porque depois haverá controles nas estradas de quinhentos em quinhentos metros, do MPLA, da UNITA, da FNLA, tudo controlará tudo e nada até que a situação exija a ONU. Se passarem um controle poderão não passar quaisquer outros, ninguém perguntará quem são os mortos nem quem os matou, nem haverá sequer quem os enterre.

Recusei há dias a ida como observador disfarçado de turista, de caçador de caça grossa, de jornalista ou de activista, recusei todos os convites e todas as opções, sou macaco velho e já tenho calo no cu, se alguém quisesse uma Angola pacífica não lhe tivessem dado a independência em 75, pelo menos nos moldes em que foi dada, mas que força tínhamos nós para mais que fingir ter sido magnânimos ? Sim, que poderíamos ter feito mais que fingir que nos impusemos e que contámos para alguma coisa ? Não sei se ainda se recordam do Mapa Cor-de-Rosa e da história de Angola à contracosta, ambição a que o ultimato inglês de 1890 pôs cobro e episódio que também terá cota-parte no despoletar da República em 1910, desta vez não vai ser de Angola à contracosta, desta vez vamos sair é de Angola a contragosto…