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sexta-feira, 16 de junho de 2017

440-ONDE MIJA UM PORTUGUÊS MIJAM LOGO...

Recanto e antigo mictório à entrada da vila de Monsaraz.

Ficavam ali tagarelando olhando os poucos turistas, em especial as turistas, olhando, cuscando e cascando com vagar, sem pressas, cada frase maturada antes de ser dita, de tal modo que uma dúzia delas poderia ocupar-lhes uma manhã, uma tarde ou um serão. Eu ouvia-os, mais das vezes sem os entender completamente, mas entendia-lhes os trejeitos, o sibilino de uma ou outra frase, o riso contido e o desatado, a brejeirice e a malícia. Mais de uma década depois ouviria falar em etnocentrismo e egocentrismo, só então tendo percebido que a visão que dali se abarcava não ia tão longe quanto sempre pensara.

Os homens reuniam-se ali não para ver quanto a vista alcançasse ou para sonhar, antes para observarem sem questionarem tudo quanto por perto lhes fosse dado ver, e então viam, não analisavam, viam com os seus olhos de ver ao perto, buscando a sombra da manhã, da tarde, ou o fresco do serão, sentados sobre o murete existente no exterior da porta da vila, à sombra da torre da direita cujo arredondado consentia um recanto, vindo a jeito no espaço aberto daquele areópago sem nada atrás de que os homens pudessem aliviar-se, murete onde se sentavam como quem se senta nos degraus da porta de casa, nem pensando na vida, simplesmente distendendo as pernas, descomprimindo o corpo, largando umas larachas.
Évora, partida para a praia de Monsaraz.

Alguns por comodismo faziam-no, indo à vez aliviar-se naquele recanto, certos de não haver quem os visse e, mal fosse um iriam logo de seguida dois ou três. Também eu fui algumas vezes, abrindo bem as pernas como via fazer aos homens, um braço encostado à muralha, a testa encostada ao braço, o xisto absorvendo o liquido vaporoso quase como uma esponja, a muralha naquele sitio permanentemente humedecida, o fedor fétido que nada ficava devendo ao exalado pelo urinol público (sistema ainda em funções em S. Miguel de Machede, para onde eu havia de me mudar) o olho sempre focado no liquido escorrendo parede abaixo não fosse molhar-me as sandálias, sacudindo no final, tal qual via fazer aos homens, guardando somente depois de bem sacudido. Tenho a certeza embora o não relembre, que algumas vezes como eles terei assobiado ou feito hum hum enquanto … embora o catarro não me incomodasse como ainda não incomoda, inda que a próstata me ande atormentando como se calhar os atormentaria a eles.

Jurar-vos-ia ter sido a partir daqui que embirrei com calções e sandálias, nunca vi homem nenhum de calções e sandálias encostado pensativo a essa muralha. Nem depois na Tv quando de vez em quando os mostravam junto ao muro das lamentações. Decididamente não era a mesma coisa, aqui ninguém se lamentava, antes se aliviava, logo voltando para o murete, para a conversa, para a cusquice ou para o jogo de Alquerque, gravado nas lajes do próprio muro, enfim para o que desse e viesse, tudo menos lamentações, não me recordando de ter visto alguma vez alguém lamentando-se do que quer que fosse, quando muito da força do fogo preso das festas. Nem eu que decidira abandonar os calções e as sandálias me queixei, nem tão pouco me lamentei, eu ali só ouvia e via, não piava, somente à avó Inácia Ferrador o confessara, começava a sentir-me um homem e aquela farpela envergonhava-me, afinal já mijava onde eles mijavam e nunca nenhum me dissera:

- Raspa-te daqui rapaz !

Na praia de Monsaraz.

Voltei lá ontem, 15 de Junho e dia do Corpo de Deus, largámos a meio da tarde a praia recém inaugurada do Alqueva, uma vitima do próprio sucesso, e quando chegados ao Ferragudo o grupo seguiu pelo Telheiro e S. Pedro do Corval enquanto eu apontei a mota à vila. Antes de parar na entrada deitei o olho a quem estava, observando se donde estivesse me veria vertendo águas no recanto da muralha. Há bem cinquenta anos que não o fazia ali e ia preparado, não o fizera dentro de água nem no bem preparado recinto da novel praia, estava a guardar-me para uma fenomenal e cinquentenária mijadela mas, ainda não tinha parado a mota e já apanhara uma desilusão, o espaço fora empedrado já não existia nem recanto nem acesso a ele, e agora ? Fazer como fiz tantas vezes ? Mijar da muralha abaixo ? Ter cuidado para que por mor do vento não mijasse as pernas ? Curiosamente cinquenta anos depois voltei a usar calções, verdade que já sou homem, mas também já não me quero comparar com eles, a minha busca agora é pela diferenciação.
Na praia de Monsaraz.

Um guarda num jipe avisou-me não poder estar ali parado tendo despoletado em mim a vontade de lhe mijar para cima, dele e do jipe, mas um homem em calções não faz isso, porta-se bem, montei a mota, desci em surdina até à rotunda logo ali a cem metros e, ao abrigo de uma escultura em ferro que para lá está exaltando o cante aliviei-me, até cantei, e pelo sim pelo não deixei a minha imagem de marca, mijei os pés aos cantadores todos. Ó la ri ló lé, onde mija um português mijam logo dois ou três, vá lá, um dó li tá, é a vossa vez amigos, mas não, não se mexeram e eu voltei a montar a mota, rumei à ponte de Mourão a fim de galgar dali a apanhá-los nos Reguengos, por isso arremeti aos esses chapada abaixo, segunda, terceira, segunda, terceira, quarta, segunda, primeira e travões a fundo, foda-se que a ladeira tem curvas apertadas como o caraças, um homem apanha com cada susto, quase se mija…

 
Estacionado na praia de Monsaraz e vista de Monsaraz
                                  
                
                    Monsaraz, escultura evocativa do cante alentejano.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

376 - LUTA DE GALOS ***..........................................


Era demasiado novo, por isso me pareceram manápulas as mãos que meu pai, irado, colocou em cima de mim, uma nos fundilhos outra na gola da camisa arrepanhando-me os cabelos da nuca que quase arrancou, elevando-me nos ares, eu gritando em desespero, para dois passos depois me depositar violentamente no chão, frente à porta de casa, onde entrei abruptamente e de supetão devido ao seu gesto irado.

Eu nem me apercebera da coisa e demorei anos a entendê-la, décadas, e, não fora terem-me ficado gravadas na memória as manápulas e a ira de meu pai e talvez tudo aquilo tivesse sido esquecido, como esqueci quem eram os que na matança disputavam comigo as unhas dos porcos, arrancadas pelos homens num repente, quentíssimas, jogadas fora para que não lhes queimassem as mãos e pelas quais nós lutávamos sôfregos, embora nunca eu tenha resolvido a questão do nós, nós quem ? Tal como nunca percebi que raio tinha o sabugo das unhas dos porcos de especial, ou de bom, para assim as disputarmos, embora recorde ainda, e bem, o seu sabor adocicado e sobretudo o agradável cheiro a chamuscado, como as lembro sempre que no inverno o pacote das castanhas me queima a mão, ou as mãos.

Como habitualmente, jogava Alquerque* com o Julinho na ampla e larga escadaria de lajes e poucos degraus do adro da igreja de Nossa Senhora da Lagoa, e nem eu nem ele déramos pela multidão que se juntara, foram os gritos dos contendores, roucos, guturais, já dentro da roda que à volta deles se formara e que com eles balançava para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás, conforme as estratégias e tácticas usadas pelos dois homens que dentro dele se confrontavam espumando baba, raiva e palavrões que os guinavam ora para um lado ora para outro quem nos chamou a atenção. A mole humana, deveria dizer a turba que os cercara, observava, admirava e incitava, gritava como eles a cada ataque, a cada investida, a cada pulo de ataque ou de esquiva, incitando-os ou criticando-os e espumando de igual forma. 

Foi pouco depois dessa ocasião que o senhor Teófilo colou na porta da Junta de Freguesia um edital proibindo terminantemente folhas com mais de sete centímetros. Até aí qualquer um usava a navalha que quisesse e dada a proximidade de Espanha as de ponto e mola eram largamente preferidas, contudo diga-se a propósito que nenhuma delas teria uma folha com menos de sete centímetros, havia-as até que ultrapassariam os quinze, talvez mesmo a maioria. Essas eram as navalhas pessoais pois além delas havia as de trabalho, bem diferentes umas das outras e cuja folha se adaptava mais à função que à régua e esquadro de qualquer legislação.

Foi o alarido que me fez largar o Alquerque* correndo a matar a curiosidade no justo momento em que alguém jogava uma navalha a um dos desavindos. Não sei se a não tinha se a deixara cair, sei que alguém, presto lhe atirou um navalhão de podar, daqueles de folha levemente em gancho, larga, p’ra lhe dar maior resistência, ainda hoje me interrogo se não teria sido totalmente descabida uma navalha daquelas e se quem o fez não teria outra maliciosa intenção. De folha mais curta e incapaz de perfurar aquela navalha deixaria quem a tivesse nas mãos nitidamente em desvantagem.

Eu assomava por entre as pernas dos homens ou agarrado a elas, e nem eles paravam quietos nem os gladiadores na arena.  Urros guturais, saltos, golpes instantâneos desferidos em ataques, ou em defesa, sangue, cortes nos braços dos dois, um sangrando da cara, as navalhas confundindo-se-lhes nas mãos tintas de sangue cujo cheiro devia funcionar como adrenalina num cio latino, machista, sei lá, digo eu, o que sei é que o cheiro do sangue não me abandonou até hoje sendo muito diferente daquele com que as mulheres faziam a rechina. **

Um deles chamava-se Bartolomeu.

- Bartolomeu pede ajuda a Deus ! Gritava a turba.

Um deles dizia eu, esse, parecia estar condenado, ensanguentado, todo ele era sangue, notava-se-lhe o cansaço, já nem espumava da boca e falhava os golpes por o sangue lhe toldar a visão.

A multidão ululante apostava nitidamente na sua derrota, não que tal fosse uma questão de simpatia mas como sabemos dos fracos não reza a história, nem a maioria os respeita, ele fora somente o primeiro a ceder e portanto nunca teria quem por ele intercedesse, o tempo dos cavaleiros andantes e do cavalheirismo não era aquele e os gritos da mole humana pendiam claramente a favor do adversário do desgraçado do Bartolomeu. Nessa tarde ele seria o touro de morte na arena. A luta seria até ao fim, assim rezava a tradição, a menos que a guarda os separasse e nada menos que a guarda, entretanto mandada chamar por alguém ao posto da aldeia do Telheiro e que no melhor dos casos ali estaria dentro de uma hora a hora e meia, o desgraçado do bom do Bartolomeu estava condenado.

Mas a vida carrega imprevistos e quando menos se espera dá meia volta ou uma volta completa e, ironia das ironias a confiança do outro traí-o ou a confiança na vitória antes do tempo ou uma pedra mais saliente no irregular empedrado da calçada, o que sei é que todos à vez largaram um

 Oooooooooohhhhhhhhh ! ! !

quando ele se desequilibrou e, por centésimos de segundo abriu a guarda. Bartolomeu viu o raio de sol que Deus lhe enviava sob a forma de uma oportunidade única e irrepetível, listo disparou um salto, o braço movendo-se rápido pelos ares como o duma ceifeira, a lâmina em gancho beijando as calças de saragoça ensanguentadas do outro, nem de pé nem caído, antes num desequilíbrio estático que lhe foi fatal pois não houve ninguém que não visse a golfada de sangue atrás da lâmina da navalha de podar do Bartolomeu que num pincho lhe enganchara a perna e lhe cortara a safena num golpe de mestre lancinante que deitou por terra o outro, esquecido da sua própria navalha para, a mãos ambas tentar um garrote e não logrando, as golfadas jorrando, toldando-se-lhe a visão ainda nem acabara de ouvir da multidão um:

Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh ! ! !

que surpreendida arredava, como se a morte precisasse agora de mais espaço que a vida e o outro estrebuchasse aos saltos ao invés dos tremores e espasmos frios em que se encolheu, encostado aos degraus da dita escadaria, o cotovelo apoiado no meu jogo de Alquerque, as mãos aflitas tacteando a safena que se lhe sumira, tal qual quando os touros em pontas colhem os toureiros pela altura da virilha e em minutos os vêem esvair-se em sangue sem apelo nem agravo, tal qual este agora, sem saber se tactear se rezar, a alma e o olhar sumindo-se-lhe na direcção do nicho com um painel de azulejos de Nª Senhora da Lagoa, que ainda a hoje se pode ver no frontispício da igreja com o mesmo nome e em frente da qual eu morava.  

Foi quando ele me agarrou com as manápulas, arrancando-me à garra magnética da multidão com tal facilidade que inda hoje me surpreende. Logrou é certo, evitar que assistisse ao final daquele macabro espectáculo contudo não teve a mesma sorte quanto à triste cena do estertor do vencido. Era assim na minha terra há cinquenta anos, naqueles tempos lavavam-se os agravos e a honra com sangue, isto vim a sabê-lo muitos anos depois, o motivo, o móbil, a provocação ou a ofensa essa nem estive sequer perto de a saber.

Empurrando-me com brusquidão atirou-me para dentro de casa fechando atrás de mim a porta e rodando a chave, enraivecido jurei ali mesmo que, tivesse eu nas mãos uma ponta e mola daquelas espanholas e havia de lha ter espetado sem compaixão no coração. 

Até ao fundo...


*  Alquerque: velho jogo árabe cuja origem ninguém na vila conhecia. Uma espécie de “jogo do galo” em que cada contendor ao invés de alinhar cruzes procura alinhar as suas pedras. 



quarta-feira, 19 de março de 2014

181 A IMPORTÂNCIA DE ME CHAMAR HUMBERT

                                 
Surpreendi-me a mim próprio porque naquela manhã luminosa os campos e as flores ficaram esperando o meu olhar para que, num repente abrissem, e foi quando abandonei de todo as conversas dos velhos e me concentrei nesse mister que os rebentos finalmente desabrocharam e sacudiram as amarras da vontade que neles oprimida estava. 

Olhei ao longe, até Elvas, e na esteira do meu olhar as giesteiras agitaram-se num tremor estrepitoso e abriram em uníssono, pelo que posso garantir-vos que de todas as flores campestres é a giesta aquela cuja melodia mais se destaca na manta de retalhos colorida dos campos que se estendem até Badajoz e de Monsaraz se avistam.

Temia a canícula das tardes quentes em que bastava o restolhar duma cobra nas ervas secas para me pôr os sentidos em alerta, por isso aproveitava as manhãs em que elas pasmadas se quedavam enroladas sob as fragas, aquecendo sangue que lhes desse alma para, como eu, cabriolarem, pois cavalgava os muretes da entrada da vila e entretinha-me ouvindo ociosos sem jorna, apostando os sentidos no Alquerque* que a todos arrebanhava em intermináveis gestas.

Espojado nas lajes frescas do murete manuseava as pedrinhas,* aliviava o elástico dos suspensórios, o ouvido pendendo-me para as histórias marteladas no canto onde os homens mijavam e de mão sobre o sobrolho punham a vista nos fumos que se soltavam dos fornos das olarias da Aldeia do Mato, numa tentativa vã de catalogarem pelas suas formas e cores a cerâmica que vomitavam, porque do “Santiago”, que só pratos cozia, jamais poderiam ser aqueles novelos em catadupa, quando muito do “Beijinho”, esse sim mestre dos melhores potes e louças dali à raia e até Espanha, era sabido de todos.

           Pasmava ouvi-los dissertando sobre o fumo branco e o fumo negro das cerâmicas e nem o seu cantado linguajar abafava o silêncio rumorejante das águas da ribeira que se avistavam daqui, faiscando, e cujo morse eu traduzia manipulando as pedrinhas* ao sabor desses segredos em código emanados das violetas bravas que lhe salpicavam as margens.

Foi somente quando o rosnar do motor da camioneta da tarde espumando na ladeira se fez ouvir que os homens se benzeram e largaram fugindo de chapéu na mão, trancando as portas de casa, porque um motor era um ser estranho e lembrava os idos de antanho, e certa manhã de cerrado nevoeiro em que um igual ruído, trazido por um biplano, alarmara todo o termo por tonitruante impacto e ígneo incêndio de cujos destroços, desabados junto à torre de menagem do castelo só um cadáver carbonizado restou, o do desditoso aviador, pela sina ludibriado, e que Humberto se chamara.

Tal como Humberto deram de nome ao meu padrinho e todos esperaram na família que cedo aprendesse a voar e lhe nascessem asas para que se sumisse daquele inferno para fora, como um pássaro, como o perfume duma giesta ou de uma violeta brava, ou como um rio, porque a uns a vila abafava os destinos num novelo e nem as mãos delicadas das mulheres lhes soltavam as pontas, e a outros os engalfinhava uma serpente camuflada nas esquinas do porvir e os esventrava para que jamais fossem além das muralhas da sua própria coragem ou das ameias do seu ímpeto, e no fosso, por trás de onde elas mais altas eram, podiam ver-se ainda por nem terem mais de cem anos, os esqueletos desossados dos últimos mártires cuja carne acicatara o apetite dos milhafres.

Por isso eu não vi, juro que não vi nunca vi, as mulheres à noite, escondendo nas trevas os seus trajes negros, ajoelhando num mar sobre as lajes frias do largo, orando compenetradas e erguendo as mãos a Nossa Senhora da Lagoa num painel de azulejos no frontão da igreja do mesmo nome, venerada há mais de quinhentos anos, pisando e repisando a víbora que se alimentava dos destinos das gentes e cujas gargalhadas se ouviam nas noites luciferinas de tempestade.

Mau grado o fadário da vila a minha vida decorria toda ela sob o signo da leveza e, uma vez, depois de ouvir a avó Inácia :

- Raio do gaiato que nem pára em casa, parece ter asas !

Pelo que nem será de admirar que tenha acautelado se seriam asas que me brotariam das costas, tal a coceira por vezes ali sentida, ou que já no liceu exultasse sempre que o professor de atletismo :

- Parece que tem asas nos pés o raio do miúdo !

Nem foi preciso mais para acentuar a minha queda pelos clássicos, pelos mitos de Hermes e Pégaso, tudo factos que, contudo, não saciaram a minha ânsia de realização pessoal, cousa que até hoje persigo.

Depois de cinco divórcios de sucesso ressoam todavia em minha mente os gritos de cinco esposas indolentes, que em sonhos inda hoje me convidam a assentar os pés na terra, pelo que me interrogo em introspecção pessoalíssima se não seria já tempo de se terem concretizado todas as esperanças depositadas neste nome que carrego.

Porque ou o milagre se dá ou o paizinho e muita namorada que servi tinham razão e de um tolo de cabeça no ar não passarei jamais …


* Alquerque – velho jogo árabe cuja origem ninguém na vila conhecia. Uma espécie de “jogo do galo” em que cada contendor ao invés de alinhar cruzes procura alinhar as suas pedras. 






quarta-feira, 5 de março de 2014

179 - NOSSA SENHORA DA LAGOA ......................


Sempre duvidara que aquela enorme igreja assentasse as fundações em cima de uma lagoa, não tanto por duvidar ter a física da leveza sucumbido às premonições populares e disso não ser capaz, afinal eu mesmo já vislumbrara várias vezes a vila inteira pairando acima das nuvens, vila, castelo, varandil, igreja, cisterna, escola, muralhas, tudo certamente muito mais pesado que uma igreja só, sobretudo uma de aparência tão leve como o azul claro que certa vez lhe rematava os baixinhos. 

                   Porém era para mim difícil aceitar que ali houvesse uma lagoa, as dúvidas assaltavam-me não obstante a certeza das águas na cisterna, e que bastas vezes sentira bem frias nas cálidas tardes de verão em que eu e o Julinho lá nos refugiáramos da canícula.

Nessa manhã aborrecera-me, já ia alta, e eu, sozinho, brincara de avião em torno do pelourinho quando senti roçagar na face as almas penadas dos expostos e a pele se me arrepiou num calafrio repentino, como quando acordava com uma osga passeando-se no meu pescoço. 

Afastei-me receoso e tão bruscamente que as grilhetas dos mortos se me enlearam nos pés e me travaram os passos e, temente, encostei-me ao gargalo do poço cuja água, tão profunda, jamais poderia ser a mesma que a do charco da igreja de Nossa Senhora da Lagoa, mas reflectia, refractada nos círculos concêntricos que se formavam na queda das pedrinhas que com desfastio provocado pelo ar pesado da manhã eu lhe atirava, reflectia a minha imagem, tremente e temente, e que por instantes ficava impressa nessa água assim agitada, em contraponto à quietude a que os sacrificados mártires no pelourinho se impunham.

Foi somente quando o fundo do poço me devolveu a imagem de um ungulado de olhos em chamas que o corpo se me inteiriçou numa paralisia asfixiante e intentei fugir dali, subtraindo-me ao hausto que o gargalo do poço exalava e espinhosamente me atraía para as águas profundas que o bolçavam.

Dei por mim fugido da razão e trémulo da emoção que me causou o tecto elevado da igreja, cosi-me melhor contra uma das altas colunas que sustentavam a nave quando me mirei e remirei nas lajes escuras do chão de xisto impregnadas de humidade, tentando não ser eu mas um outro que refugiado estaria numa palafita que séculos antes dos castros ocupavam o lugar que hoje a igreja de Nossa Senhora da Lagoa tanta protecção me oferecia.

Do alto da minha pequenez assustada encolhia-me ante a esplendorosa talha dourada do altar mor e atrevi-me, pé ante pé, a percorrer a nave deserta e fresca onde eu só não levitava por sentir sobre mim o pesado olhar de todos os santos, em todos os altares, em todas as capelas, focados em mim, intimidando-me, enquanto continuava ouvindo silvando lá fora as almas dos mortos rodopiando em volta do pelourinho e assomando ao gargalo do poço, arrastando as correntes e exibindo as chagas purulentas cujo cheiro, fétido, os círios ardendo nos altares cobriam e eu, de pernas tremendo como varas verdes, num salto fenomenal para não pisar as lajes sob as quais descansam em paz os ditosos, saí dali a fim de lhes não perturbar o eterno sossego que naquela paz sagrada buscavam.

Vergado à compunção ensurdecedora que o silêncio da igreja incutia, arrastei tenazmente os meus medos e alcancei a escada que me conduziu à varanda no alto do frontão entre as duas torres sineiras cujos sinos, melíflua e melodiosamente, me acordavam em cada manhã das férias passadas naquela vila que já era um navio, mas que não tinha então à vista o enorme mar em cuja bonança hoje navega.

Matei a curiosidade e toquei no bronze frio dos sinos com a ponta dos dedos, experimentando neles a duvidosa magia de comando das almas para que o Julinho me alertara, cujo penar se sumia dos nossos sentidos quando, admirados, recolhiámos a mão do verdete sujo do sino, para só tornar tocando-lhe de novo,  e então novamente as almas em seu diáfano horror em redor do pelourinho e na borda do poço, para se remeterem ao sepulcral  penar mal eu encolhia novamente o dedo.

E foi assim que senti, dominando os meus medos, esvaír-se-me a infância, estando eu nisto quando, nem precisava ter ouvido lá em baixo o senhor Teófilo, cujos gestos não davam lugar a dúvidas convidando-me a descer antes que subisse ele e me desse duas lambadas. Amuei mas desci.

Mau grado as ameaças tomei, contente, nesse pungente momento a firme decisão que naquele dia transmiti à avó Inácia :

- Avó, a partir d’hoje não quero voltar a usar calções nem suspensórios.

Ela sorriu para mim, estendeu-me os braços em que me acolheu e …

- Meu querido menino, és mais parvinho que o teu avô.

Puxou-me para o seu colo enquanto me lambuzava com beijos sabendo quanto eu detestava isso, e só escoando-me me libertei daquele abraço e sorriso mágicos com que sempre me cingia.

De fugida da avó avistara o Julinho perscrutando a praça da sacada da janela. Gritei-lhe e fiz-lhe sinal. Descemos ao largo lajeado da igreja e sentámo-nos na escadaria. Esculpidos nas lajes a canivete os sulcos dos jogos do Alquerque* convidavam-nos a um despique, ele alinhou, eu fiquei com as pedrinhas brancas ele com as pretas. Ganhou o melhor de nós.

  
* Alquerque – Velho jogo árabe cuja origem ninguém na vila conhecia. Espécie de “jogo do galo” Cada contendor ao invés de alinhar cruzes procura alinhar as suas pedras.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

176 - PAPA AGULHAS O TIO BUFARINHEIRO … *



Se deitado, ficava tempo sem fim olhando os caniços do tecto, lá fora o sol abrasando as telhas infiltrava-se soezmente por entre elas dando ao quarto e à minha sesta uma aura fantasmagórica. Somente as osgas trepando as paredes do rústico quarto me desassossegavam, ficava magicando, olhando a sua transparência luminosa até adormecer vencido pelo cansaço, envolvido na frescura em que essa semi obscuridade me embalava.

Entre as duas e as quatro ou cinco da tarde o verão era impossível e nas ruas crestadas do vilarejo nem uma mosca bulia no chão por empedrar, vermelho e barrento, onde o calor imprimia rotinas que se perpetuavam, eternas. A tia Aia ficara a única solteira das treze irmãs de minha mãe e, sem filhos, recebia à vez e a cada quinze dias daqueles longos verões os sobrinhos e sobrinhas que se dispusessem a partilhar-lhe a melancolia de metade da alma, porque a outra a havia juramentado e entregue a um bufarinheiro sem eira nem beira que arrastava a existência pelos lugarejos da margem direita da Guadiana.

Linhas, agulhas, colchetes, dedais e tesouras, botões, elásticos, nastros, pentes, travessas, cuecas, sutiãs, peúgas, peças de chita, bombazina e saragoça, ardósias, lápis de cor e cadernos, brinquedos de madeira e lata, bonés e chapéus de palha, louça de esmalte e em barro, fruta da época, e movia-se de terra em terra mercadejando, mil bugigangas. Tudo esse bufarinheiro feito meu tio, de alcunha o “papa agulhas” como era por aquelas bandas chamado, apregoava e vendia. Lembro-o bem. Alto, magro e espadaúdo, um bigodão farfalhudo, umas mãos enormes, sorriso ingénuo e sincero, olhos inocentes de menino, e uns joelhos altíssimos que balançavam como chata na corrente da ribeira e onde eu mal podia me escarranchava.

Sentia-o sair de casa ainda o sol nem despontava pois ouvia o chiar da carroça e as ferraduras da mula no cimento do quintal enquanto a aparelhava. Uma ou outra vez acenei-lhes à partida, os raios de sol tocando-me o rosto rompiam luzindo no horizonte e arrastavam os laivos da noite que se escoavam em cada matina agarrando a manhã. A tia Aia já se não deitava, cirandava por ali nas lides da casa, ligava a galena porque às seis em ponto havia que sintonizar as ondas castelhanas e viver o drama da vida de “Pedro Páramo” que a Rádio Nacional de Espanha difundia para lá da Guadiana e fazia furor cativando ouvintes dos dois lados da fronteira.

Quando me levantava já o café borbulhava na cafeteira de barro cujo cheiro se misturava com o dos madeiros respingando pelos nós dos toros, sacrificados ao lume de chão que os pingos das linguiças e morcelas penduradas na lareira avivavam. Lareira mesa galena, a tia Aia triangulava flutuando sem ruído pela casa que acordava muito antes do alvorecer dando tempo ao bufarinheiro de se pôr a milhas sem que o sol da manhã o escaldasse.

Um chapéu preto de abas largas emoldurava-lhe um rosto tisnado, a lentidão de movimentos e uma expressão calma acentuavam ainda mais essas particularidades tão suas e que eu admirava sobretudo quando, pelas sete da tarde me deixava pegar nas arreatas da mula e conduzi-la, a pé, ao bebedouro onde ela, qual camelo, se precavia até ao dia seguinte enquanto ele lhe assobiava a mesma e eterna ladainha que inda hoje lembro tão bem e cujas notas ele repetia incansavelmente terminando-a somente quando “Linda” erguesse o pescoço e sacudisse o rabo e as moscas. Na volta esperava-a um petisco de forragem favas e alfarrobas cuja mistura depressa eu aprendi a dosear. Era entre a Linda e os mimos do tio “papa agulhas” e da tia Aia que a minha vida decorria, eu, o “meu menino” como ela me chamava, lembro-a de olhos vivos sorrindo para mim e carregando na expressão como se no receio de que eu não entendesse ser o “seu menino”.

Dele jamais esquecerei a calma contagiosa e o sorriso meigo que nunca mais vi igual num adulto, nem as mãos calosas que pegavam em mim e de um balanço só me punham no dorso da Linda, ou sobre os seus joelhos vogando nas ondas dos mares encapelados por onde na brincadeira me fazia singrar quando não era cavalgando um garanhão andaluz e fazendo-me passar as passinhas do “Al garbe” comigo desfeito em sonoras gargalhadas.

Ambos tiveram cota parte importante nas recordações felizes que guardo da minha infância, até de quando regavam com amor de pais a terra vermelha em que me dispunha a brincar para que pudesse abrir estradinhas na volúvel poeira barrenta que grassa naquelas bandas e onde, à sombra dos altos muros de terra batida tantas tardes me entretive brincando. Foram desvelos que deixaram marca, acredito que muita da calma que anima o meu carácter e do amor que me enforma a personalidade lhes são devidos e a verdade é que jamais encontrei vida fora a tranquilidade desse lugar nem a bondade desinteressada com que por eles fui brindado. É certo que a infância, como a mocidade ou a Primavera, vão uma vez e não voltam mais e, só muitos anos mais tarde a companheira de uma vida me marcou como esses tios hoje ternamente lembrados.

Lembro especialmente uma tarde de catequese meses depois dessas férias em que, confrontado com os ensinamentos de Deus, me punha a imaginá-lo no céu, sentado no trono, rodeado pelo Filho e pelo Espírito Santo, e acreditem, ainda hoje estou convencido que a existir Deus terá um olhar inocente de menino o sorriso ingénuo e sincero e as mãos grandes e calosas como esse meu tio bufarinheiro, o meu tio “papa agulhas”.

Deus lhe tenha a alma em conta.

           

* O lugarejo a que aludo nesta história é a aldeia de Outeiro, a 15 km da cidade de Reguengos de Monsaraz e a 6 ou 7 da vila de Monsaraz. Pintura, Monsaraz por Marcelino Bravo - Évora. 



quarta-feira, 24 de julho de 2013

155 - REMEMBRANCE THE PAST ............................



                                                                                             
Mal o astro despontava e lá estava ele nos degraus colhendo-o, o calor enxugando-lhe o mijado nas calças de saragoça, amareladas da urina, do sol e do tempo

eu nas férias e a manhã soalheira ainda, com a figueira grande lá em baixo depois do quinchoso, onde o sol nos apanhou pendurados dos figos, eu, o cianito, o telmo o xico, o zé, talvez o humberto o meu padrinho e acho que também o fernando, a memória não me é nítida já

ainda lá mais em baixo o roxo, lavadeiras e roupa estendida sobre as flores que atapetavam os campos e a corar

tremia e babava-se aquecendo-se ao sol, não naquela altura, mas hoje pressinto-o como um trambolho para a família, pois nem uma criança exigiria tanto trabalho ou atenção

chegada de itália a tia paquita, os chocolates todos derretidos num saco, o sol abrasando. 

transladaram o avô palma para a sombra.

nem sei como cabiam todos, tantos, naquele carrinho onde o meu tio seisdedos custava a entrar. 

- Para onde me fui ?

perguntava ele, atarantado do avc, atropelando as sílabas e agarrando-se ferozmente ao cajado polido pelos anos, arrastando a perna inerte

- Para onde me fui vocêses ?

o nero abanando a cauda e erguendo-se a custo, seguindo-o fielmente numa preguiça de pasmar

pasmava-se de vê-los, o burro branco trotando chapada acima, o zé de equilibrista em cima dele fazendo de cristo-rei, os pés fincados em cima da albarda como os pés das bailarinas de cisne

- Olhem p’ra mim ! hão-de ver se fazem igual ! é o fazem !

quando vinham à aldeia as trupes de saltimbancos esses sim faziam, faziam maravilhas de equilibrismo no arame

abalei dali a correr, porque não aguentei ver aquilo, e o que me horrorizava era ver os cágados sem patas esperneando no alguidar, quando voltei aquilo eram o xico peixeiro mais o tio seisdedos e uns quantos alarvemente em redor do petisco das patas dos cágados que o pescador trouxera da ribeira da guadiana

para onde fui depois nem eu sei, porque a manhã estava a meio e nuvens carregadas naufragaram o radioso do dia que na Arreigota era de ceifa, e onde o meu pai aflito e minha mãe aflita, e o meu pai

- Fica aí enchendo este balde de espigas e não saias daí que já venho, o pai não está longe

e antes do pai vir um choro, um choro fininho que era um choro de criança e o bebé, acabadinho de nascer, ficou a chamar-se meu mano e só me lembro dos três, os quatro agora, a caminho da vila, de mim da mãe e do meu mano novinho em folha todos no burro, o meu pai com pressa, de arreata retesada, e do tecto da casa maduro de melões dependurados de redes de ráfia, e no chão melancias, caiadas de branco para durarem até janeiro sem chocarem

só passados muitos anos fui capaz de ver a imagem que o futurismo me gravara na mente, um emblema dourado no cilindro verde que espalmava a estrada preta e dizia "Coolfield Road Roller", gravado no flanco do monstro que bufava e gemia sempre que lograva mexer-se, e que do alto da vila eu contemplava dia a dia na estrada em recta que se estendia a perder de vista pelo mar da planície em que a aldeia era navio e, quando crescido, e grande, e na marinha, decifrei finalmente as bandeiras que nela arvoravam quando em festa, e as cores de uma diziam comandante a bordo, de outra perigo, por em festas haver pólvora nos paióis destinada ao fogo preso

nesse ano de festas deixei de ver a estreia de easy rider por toda a família estar lá embarcada já e me esperar, eu na carreira até às terras d’el-rei, dali em diante à boleia num velho ford que não passava dos setenta e me deixou a uma légua do telheiro, pelo que meti a direito, subi a encosta e quando finalmente na vila apelava a banda à morte do touro na arena, já tal nem me impressionou como os cágados sem pernas esperneando no alguidar e cheirando tão mal depois de mortos que os cães não se acercavam, e, talvez porque eu já grande nunca mais me lembrei do

- Para onde me fui vocêses ?

talvez o avô tenha morrido enquanto eu na caça com o pai, talvez tenha morrido quando morreu a violeta, eu com a dor nunca mais a esqueci, nem sei se ele o avô palma, como aconteceu com ela, foi enterrado numa encosta solarenga junto com um ramo de flores silvestres

não voltei a vê-lo nos degraus onde eu brincava ao sol e ele enxugava as calças de saragoça coçadas, porque depois de crescido a saragoça nunca mais, e a bombazina sim, ele eram tudo calças de bombazina que vinham de contrabando de espanha

cresci muito nessas férias em que o fogo de artificio estoirou mais forte que em qualquer outra aldeia em redor, e em que conheci a gafanhota, a minha primeira paixão, que havia de suscitar em mim mais interrogações que as que tivera atrás do monte de molhes de feno no lugar da arreigota, em que enchi o alguidar esperando o meu mano novinho em folha, e mais que em todas as minhas vidas anteriores, tantas, tantas que esqueci o

- Para onde me fui vocêses ?

e folheando um velho álbum lá estamos, ao centro o meu mano manel da arreigota, novinho em folha, e que mais parece uma menina, tais os caracóis, à esquerda a prima luísa maria palma e à direita eu, com um brinquedo de lata na mão, os três em pose frente a uma manta de quadrados estendida de improviso p'las tias aia e joaquina na entrada do tugúrio do xico peixeiro, na minha mão a camioneta da carreira em que a mãezinha, muito branca, chegou vinda da operação ao coração, em coimbra, e sim mãezinha tive saudades, e medo, sim mãezinha eras linda como até hoje não vi, e de ti recordo-me, não me recordo é do

- Para onde me fui vocêses ?

mas a ti recordo, e do cabelo ondulado, negro, e lindo como tu, e como tu até hoje só vi numa mulher única, e mãe há só uma, sim, não te esquecerei jamais, nem de quando enfiava os dedos em pente nos teus cabelos e te dizia são lindos, amo-te, pareces uma espanhola, e agora nesta eu em pequeno na varanda da casa da vila que dava para a rua do forno, com o zé e o meu mano novinho em folha, nesta foto ainda se vislumbra o teu braço, a tua mão, cuidando de nós, como sempre fizeste, como sempre te lembro, e recordo-me agora, nesse dia mijei em arco para cima da laje do murete da varanda, ficou uma poça que o sol secou, como secava as calças de saragoça do avô palma nos degraus onde se esteirava e eu brincava, e juro mãezinha que quando te lembrar de novo te escrevo outra vez e beijinhosssssssss                                                                                                           
                                                                                                 

Foto: da esquerda para a direita, José Baião, Manuel Baião e eu Humberto Baião, na varanda da casa dando para a rua do forno.    



     


                              
                           
                                                                                                                                                                           

           








 Foto: eu Humberto Baião, o meu mano mais novo Manuel Baião e a minha prima Luísa Palma, que vive em Reguengos, tirada à porta da “casa da inquisição” onde morava o ti Xico Peixeiro.












Foto  Minha mãe, Antónia da Conceição Ventura Palma. 

                                   Foto: Meu pai, Altino José Baião, Guarda Rios em Monsaraz.

              Foto: Lugar do poço da Arreigota, onde nasceu o meu irmão mais novo Manuel Baião.