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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

380 - VALSAS, “NEM TODAS AS NOITES SÃO PARA VALSAS” CRITICA E CRITICISMO .........



Tu por aqui Baiãozinho ? Pensei que disseras não voltar mais e afinal cá estás, tu não és passarão destas bandas e aqui nem se passa por mero acaso.

- Olá ó merceeiro, como tá tu ? E a minha prima como vai ? Tens tratado bem dela ? Nunca ouviste dizer que o criminoso volta sempre ao local do crime ? E o pasteleiro ao local do creme ?  Posso ter feito uma afirmação dessas em relação a alguma coisa especifica, de resto nunca pensei deixar de fruir o que me é sugerido e até gosto do café daqui, da esplanada e dos gelados, evidentemente que no tempo deles.

- Mas saberás haver quem não aprecie os teus passeios por aqui, ou não percebeste ainda isso ?

- Claro que já percebi isso ó caramelo, isso e muito mais, nem é coisa de que me admire, porém acho que o país e a cidade e todos nós perdemos muito com esta doentia falta de critica e de críticos, vê só onde chegámos, ao buraco a que chegámos sem que ninguém aparentemente tenha dado pelos maus caminhos trilhados, um país inteiro numa fossa. Claro que sei, folgo até com a atenção que me prodigalizam ainda que eu faça os meus juízos mais para me entreter que outra coisa, mas olha, reparaste, por exemplo, que a iluminação da igreja foi melhorada ? Pois não te esqueças de agradecer cá ao "je".

- Pois pois Baião, era mesmo aí que eu queria chegar, as tuas opiniões, digo as tuas criticas parecem não ser bem aceites, não digo que sejam injustas ou despropositadas, digo apenas que não cairão bem em certos meios.

- Amigo Hermes, há uma diferença considerável entre critica, criticismo e má língua, se não me sentisse capaz de avaliar alguma coisa nem abriria a boca, quanto ao resto, e sendo a coisa pública está sujeita a criticas, e eu no direito de as criticar, tanto mais que há ali dinheiros públicos, dinheiro dos nossos impostos, e dos meus, vejo ali anunciados apoios da DRCA, da CME, provavelmente haverá subsídios da DGA, há patrocínio de uma importante fundação da terra, cabe-me portanto todo o direito a formular as minhas apreciações e avaliações e a torná-las tão públicas quão públicas são as exposições ou as instalações que uma qualquer associação promove aqui nesta igreja. Quem se aventura em público tem que ver a critica como algo que faz parte do ar que se respira, evidentemente falo de criticas justas, isentas, desprovidas de sectarismos, sem quaisquer engajamentos a lealdades morais, politicas ou religiosas.

- Sim sim Baião tens razão, uma crítica justa deveria até ajudar a melhorar as coisas, a assinalar o que esteja menos bem, mas como sabes o tuga convive mal com qualquer critica, para ele critica é sinónimo de destruição…

- Tal qual Hermes, mas eu não funciono assim, procuro um certo distanciamento e evito emitir um juízo formal ou especifico contaminado pelo preconceito ou pela subjectividade, e nunca esqueço que a apreciação de uma obra ou o prazer que ela nos proporciona ou não, envolve uma atitude subjectiva que ninguém consegue impor ao observador, pois os valores e sentimentos estéticos que este carrega, chamemos-lhe grelha de referência, é-nos anterior à apreciação e, se por um lado nos ajuda a “ver” o exposto, por outro também dificulta que nos imponham um gosto ou um ponto de vista.

- Estás a dizer-me que quando entras numa exposição já vais com uma ideia preconcebida Baião ? Já vais de faca afiada pá ?

- Não ! O que eu estou a dizer-te é que vou munido de bagagem, de conhecimentos, de uma grelha que me permite ver como se levasse binóculos e que essa visão é mais rica por ser informada mas não deixa de ser minha, e de ser subjectiva, repara nas unhas da Tininha, eu aprecio o fúxia mas tu podes preferir o lilás, sendo essa liberdade de opção ou de gosto que gera o tipo de subjectividade que não deve nunca passar para a critica.

- Então as más vontades contra ti poderão resultar de mal entendidos Baião ?  A verdade é que ainda que tenhas razão, e sei que tens, alguém preferiria que não aparecesses, que não te pronunciasses, e se assim for só pode ser má fé contra ti ainda que eu não entenda o seu fundamento. Realmente dizer as verdades ou ter razão pode ser prejudicial, só neste país, assim estamos como estamos...

 - Não, julgo que não Hermes, sou sempre objectivo nas minhas criticas, e suficientemente cuidadoso para não gerar os mal entendidos a que aludes, aliás uma critica, ou o facto de se criticar algo ou alguém tem um protocolo ético que nunca mas nunca ultrapassei amigo Hermes, senão nota, é um código de conduta que adoptei para mim mesmo há muito tempo     
        
Primeiro: a crítica deve ser justa, justificada, objectiva, precisa e claramente especificada ou dirigida, a fim de não existirem duvidas quanto ao seu objectivo e identificar sem rodeios o alvo, que deve ser único em cada caso, deverá portanto ser inequívoca. A crítica deve cingir-se a situações concretas.

Segundo: a crítica deve ser sempre bem elaborada, clara, concisa, a critica deve ser educada, correcta, comedida, não deve amesquinhar o destinatário e muito menos apoucar o emissário.

Terceiro: a critica deve evitar opinar, preconceitos e juízos de valor, a critica refere-se a coisas, a situações, não a pessoas, a doutrinas, a confissões, credos, pontos de vista ou posições, para estes casos existe a contestação.

Quarto: a crítica deve basear-se em factos concretos, a critica não pretende formar mas informar e influenciar; alertar, a critica deve avaliar expondo e contendo razões fundamentadas.

Quinto: a crítica carece de conhecimento, se desconhecermos ou não entendermos o que observa não critiquemos. A crítica exige conhecimento e coragem não devendo comportar hesitação ou cobardia.

Sexto: a crítica vale pela substância, deve ser frontal e incontestável, e não sub-reptícia ou subterrânea, a critica não é um boato, não deve ser baixa (de baixeza) nem soez.

Sétimo: a crítica exige frontalidade, criticar não pode ser confundido com o acto de atirar a pedra e esconder a mão, nem  deve ser feita por ignorância, mau caracter ou estupidez.

Oitavo: a crítica está certa ou errada. A crítica deve credibilizar quem a elabora sem desonrar quem a recebe.

Nono: a crítica é uma atitude pessoal e deve estar isenta de má fé, sectarismo, dogmatismo, engajamento e todo e qualquer partidarismo.

Décimo: a crítica deve ser fácil de ler e mais fácil ainda de compreender.

- Belos princípios Baião, mas não sei se sabes que certa gente não funciona assim, há gente que atropela toda a ética e toda a moral e para quem os fins justificam os meios, e isso é o que mais se vê por aqui. Mas afinal quanto à exposição o que me dizes ?

- É um peso pesado, tive o cuidado de pesquisar na net, mais de mil entradas no Google.

- Um peso pesado ?  É só o que tens para dizer ?

- Estás a dois passos dela, se queres saber mais levanta o cu da cadeira e vai vê-la.