quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O ALENTEJO, SUA RIQUEZA E POBREZA .............


Portugal é pobre, um país pobre desde há muito, em especial se comparado com as nações entre as quais pretende viver e com quem se pretende comparar. Não existe a mínima possibilidade de o fazer, Portugal fica mal em quase todos os items com que se compare e dentro dele o Alentejo surge como a zona mais atrasada e empobrecida, com menor índice de poder de compra, elevadas taxas de desemprego, sobretudo entre os jovens e o caracterizado por de longa duração. Um rácio de volume ou valor de PIB diminuto em relação às restantes zonas do país, NUTS ou não, uma baixissíma taxa de crescimento que nos envergonha tanto quanto a alta taxa de desertificação nos acusa.

Foi sempre assim ? Não. O declínio do Alentejo tem a idade da nossa democracia, antes disso e durante bem mais de dois mil anos fora uma região rica, invejada e disputada por muito mais de vinte diferentes povos ao longo da história. Estrímnios, Otis, Sefis, Cempsos, Lusitanos, Minóicos, Cretenses, Fenícios, Gregos, Cartagineses, Celtas, Iberos, Celtiberos, Suevos, Visigodos, Romanos, Alanos, Vândalos, Judeus, Árabes muçulmanos e africanos, Ciganos, Franceses, Cónios, e nem irei citar os Ingleses por se terem limitado ao norte do país… Se casos há em que a riqueza do Alentejo só poderá ser provada a partir de indícios históricos não totalmente exactos ou comprovados, como acontece com a secular, disputada e ininterrupta ocupação do território, outros índices há, já cobertos pelo rigor da estatística do INE e cuja veracidade não poderá nunca ser colocada em causa.

 
                        "Velho de mãos na cabeça, às portas da eternidade" Van Gogh 1882.

Falo de ou da riqueza do Alentejo, deixo para outras mentes mais despretensiosas, triviais, a preocupação com a sua “re” ou distribuição. Este texto é abrangente, olha para a riqueza, não para quem a possuiu ou possui, não é essa a sua intenção, o objectivo é demonstrar que outros povos, outras gentes, aqui souberam encontrar e criar riqueza, aqui semearam, colheram, mineraram, transformaram, fizeram, produziram e enriqueceram. Penso não errar se afirmar que, sobretudo desde o início da mecanização do Alentejo, de que nos fala José da Silva Picão no seu “Através Dos Campos” a riqueza da região mais que triplicou, ainda que a redistribuição da riqueza gerada tenha, como todos sabemos, sido tão desigual quanto parece estar de novo a verificar-se nos nossos tempos e debaixo do regime democrático.

Antes de me debruçar sobre os povos que aqui a encontraram e criaram chamo-vos a atenção para dois autores alentejanos relativamente recentes, e ainda vivos, José Cutileiro e Galopim de Carvalho, da leitura de cujas obras, respectivamente "Ricos e Pobres no Alentejo" e “O Preço Da Borrega” podemos inferir que, a par da pobreza relatada e denunciada está ela, a riqueza, muita numas mãos, pouca noutras e nenhuma nalgumas ou na maioria, mas estava, existia, as suas obras disso nos dão conta e são testemunho. Depois deles o INE registaria os censos, os rácios, as taxas, percentagens, permilagens e índices matemático científicos inerentes.

Entre vinte a trinta povos palmilharam o Alentejo nos últimos três mil anos, nenhuma outra região do país foi assim ocupada, cobiçada e disputada, daqui não se partia, somente pela força, daqui não se abalava, como abalaram os do norte para o Brasil e para França, ou os “ratinhos” por aí abaixo a fim de aqui virem servir e (sobre) viver.

Aljustrel, S. Domingos, Arraiolos, Alcácer do Sal, Tróia, minas e minérios para objectos e armas, tinturarias para tecidos e talvez na origem dos famosos tapetes da dita terra, salinas porque o sal era um bem precioso e até considerado moeda, e salga de peixe porque não havia gelo e portanto não haveria hipótese de alguém nos levar numa tarde remota a ver o gelo, como o pai do coronel Aureliano Buendía o levou em Macondo, então uma aldeia, a conhecer a maravilha da invenção do gelo. Nessa época recuada o Alentejo era revestido de searas e vinhas que inclusive abasteciam o império romano, todas estas actividades eram âncoras e motivos que seguravam e atraiam povos e gentes a estas vastas planícies.


Evidentemente as causas do “apagamento” actual do Alentejo radicam em primeiro lugar na pobreza das politicas públicas, que têm esquecido o interior do país em prol do litoral, nada fazendo para contrariar essa tendência através de medidas de discriminação positiva para o interior, embora estas por si só não sejam nunca suficientes, o país não tem uma estratégia nem a longo nem a médio prazo, para nenhuma área, social, económica ou cultural, e muito menos para uma qualquer região. Esta é somente uma das razões pelas quais neste simples texto se tornará difícil efectuar uma qualquer prognose positiva do futuro alentejano, o poder local também terá o seu peso e é notório que em quarenta e dois anos de democracia foi incapaz de definir uma qualquer visão e agir de acordo com ela.

Dar-vos-ei dois simples exemplos tidos e havidos no coração do Alentejo, e seja ele o Alentejo profundo ou não, a verdade é existir uma terrinha onde alguém se lembrou de construir uma biblioteca igual à de Alexandria sem ter reparado não haver leitores, população leitora, pessoas com hábitos de leitura, é uma realidade quase tão inverosímil quão outra contada acerca duma outra terrinha onde, segundo reza uma história mirabolante, alguém terá plantado sardinhas de cabeça para baixo na esperança que nascessem carapaus de cabeça para cima. Claro que depois o dinheiro não chegou para faraónica biblioteca, faraónica e inútil, e as obras ficaram a meio, ainda lá deve estar o mamarracho, a que não sabem agora o que fazer pois nem ganham para a manutenção dos toscos, insólito ou não, é ou não é isto amar o inútil ? Um caso pontual, uma excepção que não faz uma regra, não contesto, é porém verdade infelizmente, é lamentável mas acontece, aconteceu no Alandroal e acontece um pouco por todo o Alentejo onde obras ou eventos completamente inúteis todos os dias ou quase têm lugar.

O caso apontado é um caso pontual e, ainda que insuficiente para validar uma regra é contudo demonstrativo do atraso que subjaz no Alentejo profundo como alguns lhe chamam, a par deste caso temos por todo o país dezenas de estádios do Euro 2004 agora às moscas e para os quais não há dinheiro nem para a manutenção. Nem é preciso estar no Alentejo para constatar a inutilidade das coisas, já perdi a conta às muitas associações, colectividades, instituições e entidades que existem por existir, que não acrescentam nada ao nada que fazem, passando a vida a discutir o sexo dos anjos tema do qual não passam. Trata-se portanto duma riqueza de colectividades, como já ouvi a alguém dizer, ou gabar-se, mas não passam de instituições que quando muito empatam, parasitam, vivendo de subsídios, subsídios de câmaras e de outras origens, consomem, gastam, não produzem nada, nada acrescentam à economia, não criam riqueza nem postos de trabalho em número significativo. Poderíamos acrescentar a cultura mas essa idem idem aspas aspas, sendo ainda por cima uma cultura fechada, kitsch, exclusiva, exclusiva na medida em que exclui, não puxa ninguém, não aglutina, não inclui, é elitista. São coisas que acontecem demasiadas vezes para que se fale delas simplesmente como casos pontuais.

Onde vivemos, na lua? Ou não costumamos sair à rua? O atraso do país, atraso em que o Alentejo leva a palma não é pontual nem casual, é natural, persistente e envolve quase todos os autarcas, decididamente a inteligência não é cena que lhes assista, não é a praia deles, não é a onda deles. Bem sabemos, o país emergiu de um atraso muito significativo, Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas passaram-se mais de quarenta anos ! Quarenta anos em que nada ou muito pouco se fez de positivo !  


Não quero exagerar, mas também é sabido que pretendem candidatar essa tal terra e os seus fantasmas a património imaterial da humanidade, qualquer coisa ligada ao transcendente, ao esotérico, aos cultos endovélicos da pré-história, e lá está, mais uma inutilidade. Primeiro que tudo e antes de mais nada está o inútil, o que pouco ou nada acrescenta ao pouco nada que existe, nada de riqueza, nada de produtos, nada de empregos, nada que se apalpe nada que se veja, digam-me lá se não é isto a adoração dos magos, dos reis magos, do inútil, em que o inútil aparece sempre primeiro ?

Eu não contesto, mas foco a dimensão, a pequenez da coisa, limitada, redutora, é pouco, muito pouco, entretanto o Alentejo despovoa-se, vão-se todos embora, até porque nem todos ambicionarão lavar pratos, servir às mesas ou mudar os lençóis às camas, porque poucas mais que essas oportunidades serão oferecidas por esta dinâmica, é preciso planear as coisas, quantifica-las avaliá-las, ver se valem a pena, qual o seu objectivo, alcance, e observar se foi atingido, alcançado, se falhou, o que falhou, se vai continuar a insistir-se ou abandonar-se a ideia, capice ? É que sou daquelas pessoas que olham para um copo meio de água e o vêem meio vazio, outros olham para ele e veem-no meio cheio, é só isso, é preciso dar tempo ao tempo, dar tempo às pessoas para irem comprar uns óculos.

Entretanto o tempo passa, passaram-se quarenta anos, quarenta para decidir Sines, quarenta para decidir Alqueva, pergunto-me se será verdade serem os alentejanos lentos, quererão mais tempo, serão mesmo demasiado lentos, é caso para perguntar e depois gritar-lhes desviem-se. Em frente que atrás vem gente como diria a minha amiga Paula e com razão, reparem como os alentejanos são inconsequentes, tanto workshop, tanto isto e aquilo que parece que tudo mexe e vai-se a ver depois fica tudo em águas de bacalhau e nicles batatóides, tudo na mesma como a lesma, tudo coisas que não dão em nada, mas enfim não quero adiantar-me mais, sobretudo não pretendo que os meus leitores achem ter eu uma visão muito cínica da realidade, quer das coisas quer das pessoas, ou que exista por trás desta minha candura um certo cinismo, nem desejo ou vejo qualquer necessidade na exibição de qualquer cinismo cabotino, o cabotinismo desvirtua, prefiro-me contido, usar de reserva quando falo, não só usar mas obrigar-me a reserva e contenção antes de proferir as minhas opiniões e avaliações.

Todavia, outro exemplo, se analisarem com atenção e cuidado a legislação que regula o perímetro do grande lago, da barragem de Alqueva, é assim que gostamos lhe chamem, das duas uma, ou toda aquela legislação foi feita para amigos ou não vai deixar fazer coisa nenhuma. A exagerada dimensão exigida aos projectos que desejassem instalar-se nas margens da barragem ou foi feita de encomenda para alguém e travar todos os outros ou não vai servir para nada, dai tempo às coisas, dai tempo a isto, a esta questão, e iremos ver se tenho ou não tenho razão, tenho cá para mim que tanta água irá servir para bem pouco.

Como diria um amigo meu é rezar, rezar com fé e acreditar, crer, mas não me venham dizer não ter eu razão pois o tempo está do meu lado, quarenta anos se passaram e encontramo-nos ainda neste lindo estado. Mais quarenta e só cá ficarei eu e uns tantos parvos como a mim



Galopim de Carvalho “O Preço Da Borrega”

Nasceu em Évora, em 1931. É professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, tendo assinado no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências desde 1961. É autor de 21 livros, entre científicos, pedagógicos, de divulgação científica e de ficção e memórias. Assinou mais de 200 trabalhos em revistas científicas. Como cidadão interventor, em defesa da Geologia e do património geológico, publicou mais de 150 artigos de opinião. Foi director do Museu Nacional de História Natural, entre 1993 e 2003, tempo em que pôs de pé várias exposições e interveio em mais de 200 palestras, pelo país e no estrangeiro.


Dinossáurios (Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, 1989) Colecção natura.
Vida e Morte dos Dinossários (Gradiva, 1991)
O Cheiro da Madeira (Editorial Notícias, 1993) Ficção, Colecção Excelsior
Dinossáurios e a Batalha de Carenque (Editorial Notícias, 1994) Ciência aberta
O Preço da Borrega (Editorial Notícias, 1995) Ficção, Colecção Excelsior
Os homens Não Tapam as Orelhas (Editorial Notícias, 1997) Colecção Excelsior
Geologia Sedimentar - Volume I (Âncora Editora, 2003) Sopas de pedra
Geologia Sedimentar- Volume II (Âncora Editora, 2005) Sopas de pedra
Geologia Sedimentar - Volume III (Âncora Editora, 2006)
Como Bola Colorida (Âncora Editora, 2007)
Fora de Portas (Âncora Editora, 2008) Biografia
Cuontas de la Dona Tierra (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009)
Conversas com os Reis de Portugal (Âncora Editora, 2013) Ficção
Evolução do Pensamento Geológico (Âncora Editora, 2014)
O macaco, os amigos e as bananas (Âncora Editora, 2015) Ficção


 José Cutileiro  "Ricos e Pobres no Alentejo"

José Cutileiro nasceu em Évora em 1934. Estudou antropologia social em Oxford e ensinou-a em Londres. Diplomata de1974 a 1994. De 1994 a 1999 foi secretário-geral da União da Europa Ocidental. Comenta relações internacionais no programa Visão Gobal, de Ricardo Alexandre; tem um Bloco-Notas no blog Retrovisor, de Vera Futscher Pereira, e escreve aos sábados um In Memoriam no semanário Expresso. Publicou “inter alia” dois livros de versos (O Amor Burguês; Versos da Mão Esquerda), um ensaio sobre o fim da Jugoslávia (Vida e Morte dos Outros), crónicas sob o nome de A.B. Kotter (Bilhetes de Colares) e numerosos artigos em jornais e revistas.


O amor burguês: poesia (197?);
Versos da mão esquerda (1961);
Ricos e pobres no Alentejo : uma sociedade rural portuguesa (1977);
Ricos e pobres no Alentejo : uma análise de estrutura social (1973);
Bilhetes de colares (1982-1987) (sob o pseudónimo A. B. Kotter; antologia de Vítor Cunha Rego para o jornal Semanário, 1990);
Vida e morte dos outros : a comunidade internacional e o fim da Jugoslávia (2003);
Bilhetes de Colares de A. B. Kotter (1982-1998) (antologia publicada em 2004);
Visão global : conversas para entender o mundo (com Ricardo Alexandre, 2009);
Abril e Outras Transições (2017).







José da Silva Picão "Através dos Campos"








segunda-feira, 29 de agosto de 2016

000 - PEDRAS, COM TODAS FAREI UM CASTELO


PEDRAS, COM TODAS FAREI UM CASTELO …

(poema anotado em meia dúzia de guardanapos de papier.)


Atirar a pedra, esconder a mão,

como não,

nada mais havendo a atirar,

ou a tirar, retirar,

nem uma simples ilação.



Como não esconder a mão

que nada tenha para dar,

que nada esconda p’ra te enfeitiçar,

como não retirar essa mão.



Essa mão recusando reduzir-te,

a objecto, a dejecto, abjecto,

assim,

ficará apenas o acto,

a pedra atirada

p’ra que te saibas admirada,

quiçá amada.



Tu, que muitas pretensões satisfarias,

certamente as mais nobres pretensões

seriam preenchidas às mil maravilhas,

mas,

por nada mais restar que admirar-te,

entretive-me a picar-te,

a provocar-te,

atirando as pedras,

retirando a mão,

pousando-a sobre o coração.



O mesmo heart que te atiraria um dia,

que te daria um dia,

e nem imaginas o que eu faria

um dia,

em que pedras não tivesse e pudesse,

nesse dia,

atirar-te p’ra cima boas intenções,

um coração vermelho,

encarnado,

ensanguentado, desesperado,

por não poder, não ter podido,

deixando-me perdido porque encontrado,

e manietado, limitado,

limitada,

por quotas,

por ações,

em comandita,

anónima,

expedita,

como esta ânsia abrupta há anos desperta,

há anos  (in) contida,

apontada, focalizada,

personalizada, pessoalizada,

inaudita, e que,

hoje impossibilitada,

tira pedras da calçada,

retira pedras do castelo,

pedras encontradas, pedras a mim atiradas.



E amontoadas,

esperando a ocasião de serem atiradas,

e a mão recolhida, escondida,

feliz, divertida,

por ter-te provocado,

depois de mirado,

analisado, comparado, admirado,

e reduzido a um coeficiente,

a um número primo, a um algoritmo,

soma, resultado, equação, resolução

chave, solução,

paixão.



Reduzida a uma matriz,

um quadro de referências, cânone,

a sonho e paciência, a palavras cruzadas,

segredo e mistério, sacrifício e redenção,

ou não te chamasses tu Anunciação

by Humberto Baião – Quinta-feira, 14-06-2018, pelas 11;19h - Évora

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

376 - LUTA DE GALOS ***..........................................


Era demasiado novo, por isso me pareceram manápulas as mãos que meu pai, irado, colocou em cima de mim, uma nos fundilhos outra na gola da camisa arrepanhando-me os cabelos da nuca que quase arrancou, elevando-me nos ares, eu gritando em desespero, para dois passos depois me depositar violentamente no chão, frente à porta de casa, onde entrei abruptamente e de supetão devido ao seu gesto irado.

Eu nem me apercebera da coisa e demorei anos a entendê-la, décadas, e, não fora terem-me ficado gravadas na memória as manápulas e a ira de meu pai e talvez tudo aquilo tivesse sido esquecido, como esqueci quem eram os que na matança disputavam comigo as unhas dos porcos, arrancadas pelos homens num repente, quentíssimas, jogadas fora para que não lhes queimassem as mãos e pelas quais nós lutávamos sôfregos, embora nunca eu tenha resolvido a questão do nós, nós quem ? Tal como nunca percebi que raio tinha o sabugo das unhas dos porcos de especial, ou de bom, para assim as disputarmos, embora recorde ainda, e bem, o seu sabor adocicado e sobretudo o agradável cheiro a chamuscado, como as lembro sempre que no inverno o pacote das castanhas me queima a mão, ou as mãos.

Como habitualmente, jogava Alquerque* com o Julinho na ampla e larga escadaria de lajes e poucos degraus do adro da igreja de Nossa Senhora da Lagoa, e nem eu nem ele déramos pela multidão que se juntara, foram os gritos dos contendores, roucos, guturais, já dentro da roda que à volta deles se formara e que com eles balançava para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás, conforme as estratégias e tácticas usadas pelos dois homens que dentro dele se confrontavam espumando baba, raiva e palavrões que os guinavam ora para um lado ora para outro quem nos chamou a atenção. A mole humana, deveria dizer a turba que os cercara, observava, admirava e incitava, gritava como eles a cada ataque, a cada investida, a cada pulo de ataque ou de esquiva, incitando-os ou criticando-os e espumando de igual forma. 

Foi pouco depois dessa ocasião que o senhor Teófilo colou na porta da Junta de Freguesia um edital proibindo terminantemente folhas com mais de sete centímetros. Até aí qualquer um usava a navalha que quisesse e dada a proximidade de Espanha as de ponto e mola eram largamente preferidas, contudo diga-se a propósito que nenhuma delas teria uma folha com menos de sete centímetros, havia-as até que ultrapassariam os quinze, talvez mesmo a maioria. Essas eram as navalhas pessoais pois além delas havia as de trabalho, bem diferentes umas das outras e cuja folha se adaptava mais à função que à régua e esquadro de qualquer legislação.

Foi o alarido que me fez largar o Alquerque* correndo a matar a curiosidade no justo momento em que alguém jogava uma navalha a um dos desavindos. Não sei se a não tinha se a deixara cair, sei que alguém, presto lhe atirou um navalhão de podar, daqueles de folha levemente em gancho, larga, p’ra lhe dar maior resistência, ainda hoje me interrogo se não teria sido totalmente descabida uma navalha daquelas e se quem o fez não teria outra maliciosa intenção. De folha mais curta e incapaz de perfurar aquela navalha deixaria quem a tivesse nas mãos nitidamente em desvantagem.

Eu assomava por entre as pernas dos homens ou agarrado a elas, e nem eles paravam quietos nem os gladiadores na arena.  Urros guturais, saltos, golpes instantâneos desferidos em ataques, ou em defesa, sangue, cortes nos braços dos dois, um sangrando da cara, as navalhas confundindo-se-lhes nas mãos tintas de sangue cujo cheiro devia funcionar como adrenalina num cio latino, machista, sei lá, digo eu, o que sei é que o cheiro do sangue não me abandonou até hoje sendo muito diferente daquele com que as mulheres faziam a rechina. **

Um deles chamava-se Bartolomeu.

- Bartolomeu pede ajuda a Deus ! Gritava a turba.

Um deles dizia eu, esse, parecia estar condenado, ensanguentado, todo ele era sangue, notava-se-lhe o cansaço, já nem espumava da boca e falhava os golpes por o sangue lhe toldar a visão.

A multidão ululante apostava nitidamente na sua derrota, não que tal fosse uma questão de simpatia mas como sabemos dos fracos não reza a história, nem a maioria os respeita, ele fora somente o primeiro a ceder e portanto nunca teria quem por ele intercedesse, o tempo dos cavaleiros andantes e do cavalheirismo não era aquele e os gritos da mole humana pendiam claramente a favor do adversário do desgraçado do Bartolomeu. Nessa tarde ele seria o touro de morte na arena. A luta seria até ao fim, assim rezava a tradição, a menos que a guarda os separasse e nada menos que a guarda, entretanto mandada chamar por alguém ao posto da aldeia do Telheiro e que no melhor dos casos ali estaria dentro de uma hora a hora e meia, o desgraçado do bom do Bartolomeu estava condenado.

Mas a vida carrega imprevistos e quando menos se espera dá meia volta ou uma volta completa e, ironia das ironias a confiança do outro traí-o ou a confiança na vitória antes do tempo ou uma pedra mais saliente no irregular empedrado da calçada, o que sei é que todos à vez largaram um

 Oooooooooohhhhhhhhh ! ! !

quando ele se desequilibrou e, por centésimos de segundo abriu a guarda. Bartolomeu viu o raio de sol que Deus lhe enviava sob a forma de uma oportunidade única e irrepetível, listo disparou um salto, o braço movendo-se rápido pelos ares como o duma ceifeira, a lâmina em gancho beijando as calças de saragoça ensanguentadas do outro, nem de pé nem caído, antes num desequilíbrio estático que lhe foi fatal pois não houve ninguém que não visse a golfada de sangue atrás da lâmina da navalha de podar do Bartolomeu que num pincho lhe enganchara a perna e lhe cortara a safena num golpe de mestre lancinante que deitou por terra o outro, esquecido da sua própria navalha para, a mãos ambas tentar um garrote e não logrando, as golfadas jorrando, toldando-se-lhe a visão ainda nem acabara de ouvir da multidão um:

Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh ! ! !

que surpreendida arredava, como se a morte precisasse agora de mais espaço que a vida e o outro estrebuchasse aos saltos ao invés dos tremores e espasmos frios em que se encolheu, encostado aos degraus da dita escadaria, o cotovelo apoiado no meu jogo de Alquerque, as mãos aflitas tacteando a safena que se lhe sumira, tal qual quando os touros em pontas colhem os toureiros pela altura da virilha e em minutos os vêem esvair-se em sangue sem apelo nem agravo, tal qual este agora, sem saber se tactear se rezar, a alma e o olhar sumindo-se-lhe na direcção do nicho com um painel de azulejos de Nª Senhora da Lagoa, que ainda a hoje se pode ver no frontispício da igreja com o mesmo nome e em frente da qual eu morava.  

Foi quando ele me agarrou com as manápulas, arrancando-me à garra magnética da multidão com tal facilidade que inda hoje me surpreende. Logrou é certo, evitar que assistisse ao final daquele macabro espectáculo contudo não teve a mesma sorte quanto à triste cena do estertor do vencido. Era assim na minha terra há cinquenta anos, naqueles tempos lavavam-se os agravos e a honra com sangue, isto vim a sabê-lo muitos anos depois, o motivo, o móbil, a provocação ou a ofensa essa nem estive sequer perto de a saber.

Empurrando-me com brusquidão atirou-me para dentro de casa fechando atrás de mim a porta e rodando a chave, enraivecido jurei ali mesmo que, tivesse eu nas mãos uma ponta e mola daquelas espanholas e havia de lha ter espetado sem compaixão no coração. 

Até ao fundo...


*  Alquerque: velho jogo árabe cuja origem ninguém na vila conhecia. Uma espécie de “jogo do galo” em que cada contendor ao invés de alinhar cruzes procura alinhar as suas pedras. 



terça-feira, 23 de agosto de 2016

375 - O MUNDO DO AVESSO .....................................


Costumo entreter-me por ali, numa outra cafetaria, mas hoje, que é dia de estar fechada, depois de comprado o pão na D. Maria e o jornal no quiosque da Micas, dei meia dúzia de passos e sentei-me na esplanada de um café onde nem costumo ir nem me dão motivos para tal, contudo a aragem que soprava contra um sol que prometia esturrar convenceu-me. Eram umas nove horas e faziam-se sentir talvez uns 28º pelo que me sentei e puxei do jornal ansiando pela bica quente e pela água fresca.

Fogos e mais fogos lá para cima, o Alentejo está tão despovoado, desinteressante e abandonado que nem fogos aqui ateiam. O país arde há quarenta anos sem que ninguém se importe, há quarenta que todos os anos arde e como nada é nosso ninguém se importa com o que quer que seja, deixem arder que o meu pai é bombeiro…

Nem comigo parecem importar-se, uma hora e vinte minutos depois de me sentar continuo sem ser atendido. Levanto-me, volto à D. Maria que fica surpreendidíssima por me ver voltar e sobretudo sentar. Bebo a bica e a água rodeado de alegria sincera e é ela quem me diz que naquela esplanada não têm serviço de mesas, ninguém parece importar-se, eu importei-me, e levantei-me, são eles que precisam de mim, não eu deles, naquele café como no país as prioridades estão invertidas e ninguém parece incomodar-se, para a próxima levarei de casa e na bolsinha das bugigangas e dos livros a água bem fresquinha. Homem prevenido…

O cabeçalho do jornal não é de molde a alegrar-me, remete para a dificuldade que imensos portugueses sentem ao tentar tirar a carta de condução chumbando logo de início, no exame de código e em percentagens alarmantes. Todavia desta vez alguém se importou, associações de escolas de condução reclamam junto do IMT que se baixe o grau de exigência dos exames (iguais em toda a UE) no que está em consonância, pasme-se, com a PRP (Prevenção Rodoviária Portuguesa).

Claro que a ninguém ocorre estar o mal no nosso sistema de ensino, na indisciplina das aulas, não permitindo a aprendizagem, nos professores que não são avaliados infestando-se as escolas por quem nem sabe ensinar (uma ressalva para os bons profissionais que também lá os haverá), terminando em alunos com passagens administrativas e portanto com fortes incentivos a que não se chateiem… nunca saberão articular uma frase ou perceber, entender uma frase escrita ou ouvida, mas também aqui ninguém parece importar-se ou incomodar-se, como quererão que entendam o que lhes é perguntado num exame de código ?

Nas páginas interiores do diário o panorama não melhora, segundo um outro estudo efectuado seremos insuficientes em tudo menos na produção de vinho e cerveja, todos os outros itens, em maior ou menor grau, de zero a vinte cinco por cento vêem de fora, importamos frutas, cereais, hortaliças, carne, e pasme-se de novo, peixe. Sei que temos a maior zona marítima exclusiva da UE e no entretanto, para contrabalançar, o número de reformados da fp acaba de ultrapassar o numero de activos e por este andar qualquer dia meio milhão de activos aguenta nove milhões de desempregados e aposentados, não que alguém se importe, deixai arder que o meu pai é bombeiro…

Ninguém tem mão neste país, desde inicio do processo democrático que se instalou o amiguismo, o compadrio, o partidarismo, o seguidismo, desde aí foi instaurado o reino da cunha e não do mérito, e a democracia e os nossos democratas vêem-se incapazes de lidar com gente como Isaltinos Morais, Oliveiras e Costas, Duartes Limas, Loureiros, Dias e Valentins, de Sócrates a Varas, a Granadeiros, a Zeinais, a Bavas, a Salgados...

Estou plenamente convencido que essa história do 25 de Abril foi a maior banhada que levámos, eu e a malta que habitualmente amesenda comigo no café, isto é tudo menos uma democracia, isto é um país desigual, um país disfuncional e num estádio involutivo bem pior do que antes do bambúrrio da revolução. Só neste país e durante uma crise tremenda duplicaram os bilionários e respectivas fortunas sem que alguém se tivesse importado com a correspondente duplicação dos pobres e da miséria, sem que alguém indague porque à riqueza de uns corresponde a pobreza de outros, e sobretudo impressiona que ninguém tome medidas, medidas de fundo, que não as que habitualmente se tomam para inglês ver…

Só neste peculiar país e democracia a ninguém interessa que o estado, o fisco e a banca despoletem penhoras a torto e a direito, numa insensibilidade insana, monstruosa e vergonhosa semeando mais pobreza, mais vitimas e mais dramas perante os quais ninguém se mexe, ninguém mexe uma palha, como se cada um e todos nós não estivéssemos no mesmo barco e portanto que ver com isso.

Só este país se dá ao luxo de sacudir e despachar por todo o mundo desempregados e emigrantes como se não fossem portugueses, como se não fosse responsabilidade nossa, nossa dos diversos governos, que ignorantes do seu dever e função fizeram como me fizeram na esplanada, onde parecem nada ter que ver ou responsabilidades para com quem nela se senta, não é com eles, não servem às mesas e acabou-se, quem estiver mal que se mude, agindo uns e governando outros como se não precisassem dos clientes, ou do país mas os clientes, ou o país, precisasse (em) irremediavelmente deles… Entretanto governos e governantes, que em vez de governarem se governam e martelando a ética a seu bel prazer, entram pobres e saem ricos, e quem porventura ainda se importe com tal desiderato provavelmente terá que votar em Salazar para se puder livrar destes democratas engravatados que cada vez mais nos sugam e nos devoram.

A velhinha RTP2 tem vindo a passar uns documentários sobre o Estado Novo e a PIDE, antes da PIDE, isto é a PVDE e ainda antes desta, logo no inicio do Estado Novo a pioneira PPSE e a PDPS, enfim, é um rol de tristes e revoltantes verdades que essas reportagens inusitada e magistralmente desenrolam ante nós, o aviltante abuso do poder, as vergonhosas detenções sem mandato às tantas da matina, a abusiva censura à liberdade de expressão, a ausência dos direitos mais comezinhos, a prepotência dirigida com sobranceria, as violações de privacidade e dos mais elementares direitos cívicos tornadas hábito, as perseguições impiedosas de opositores, coisa que hoje se faz muito mais subtilmente, todo um rol de absurdos a RTP2 nos relembra ou desvenda como se estivéssemos num outro mundo virado do avesso.

Contudo sou despertado por uma pequena nota de rodapé na penúltima página do jornal que folheio e que me dissiparia a mais pequena dúvida caso ainda a tivesse, os portugueses são mal-educados, burros e estúpidos. Mesmo assim, afirmou-o a pés juntos a jornalista e escritora Marisa Moura. Claro que não me estou a incluir neste número, nem a você cara amiga ou amigo que me lê, era o que faltava, nós somos excepcionais e boas pessoas evidentemente, mas os outros, o grosso da população no geral é-o, é plena de preconceitos, incapaz de uma análise crítica, incapaz de entender uma frase curta, de formular ou sequer de defender um juízo mas debitando juízos de valor às golfadas e incapaz duma opinião, enfim, do piorzinho.

Sempre fui democrata e fiel defensor da democracia, porém conheço o meu país e as suas gentes, essa coisa da democracia, como já Eça dizia, fica-nos curta nas mangas, essa coisa da democracia é para povos mais evoluídos, para os povos do norte e centro da Europa e jamais a recomendaria entre nós. O que nós precisamos é um líder com uma visão abrangente ao invés de visões sectoriais que se entrechocam e anulam, ou se tornam perniciosas devido à falta de uma visão de conjunto, o que nós precisamos é de um líder decidido, capaz de pensar e tomar uma resolução certa e correcta na hora, que corte a direito e sem hesitações, que identifique num olhar o cerne do problema e as moscas em redor da merda, que use bota de tacão alto e saiba qual o lugar do pescoço onde deve carregar, fazer força, porque já os romanos o afirmavam, aqui vive um povo que nem se governa nem deixa que o governem, porém acredito firmemente que havendo quem, o problema se resolveria em três tempos. Há quarenta anos que andamos a preguiçar e nisso todos temos culpas, ainda que ninguém assuma a coragem de forçar ou obrigar à solução... Vai ter que aparecer alguém com tacões ou de contrário nada se fará deste nem com este povo e o país definhará...

Está demonstrado à saciedade, basta ler a história pátria, sempre que Portugal teve à sua frente homens esclarecidos e decididos avançou. Nos outros países querem-se democratas, aqui teremos que querer um homem de barba rija, e que venha Ele quanto antes, um Pinochet ou um Estaline, mas que venha depressa ou esta nação com mais de 800 anos apagar-se-à ingloriamente... Na impossibilidade de nos endividarmos no mercado, ou de fazer girar as rotativas e imprimir notas, na impossibilidade de novo resgate, restaure-se o Tarrafal para dar guarida aos democratas caídos em desgraça, digo aos que ditaram e ditam a nossa desgraça, reactive-se Caxias, Peniche, e a Carregueira, Boa-Hora e Aljube, arranje-se uma policia delicada mas persuasiva e ponham-se todos a trabalhar trabalhar trabalhar quarenta horas por semana... Torna-se imprescindível implementar uma solução assim, aliás já devia ter sido implementada há anos... E uma espécie de PIDE durinha que motive os trabalhadores a trabalhar, os ociosos a amar o trabalho, os do contra a virar a favor e os patrões ou empresários a serem organizados e solidários, e forçados a portarem-se bem... Idem para os banqueiros e bancários, tanto bastaria para que em seis meses se endireitasse este país.

Então abrir-se-iam milhares de vagas para bons empregos, só dos democratas fugidos à justa justiça e ao muro de fuzilamento ficariam para concurso uns larguíssimos milhares de lugares, é que não basta dizermo-nos anti-Salazaristas ou anti-fascistas para sermos melhores que esses fulanos, é preciso sermos mesmo bons, é preciso prová-lo, é preciso fazer igual ou melhor, e ainda não vi essas provas, mas já vi ao longo dos últimos quarenta anos, muita merda, e muita podridão, e muita corrupção. Se há coisa que aprendi com estes democratas foi a ser um exigente ferrenho. Só um homem providencial podem ter a certeza fará melhor figura que os que por lá passaram nos últimos trinta anos a quarenta anos... Toda essa gente que por lá passou não faz sequer ideia do que seja um país quanto mais governá-lo...Só lhes falta inteligência para meterem o país a funcionar... E o pessoal a trabalhar... Pois aqui neste cantinho à beira-mar, está provado que sem um forte incentivo nada se faz..... Forte mesmo.... Forte que nem uma muralha de aço, servia o forte de Peniche... Porque começando em Soares e Cavaco e Guterres e Barroso e Sócrates e toda essa tralha, terminando no inconcebível Pedrinho, ninguém soube o que andava fazendo... Só reconheço a esta democracia um mérito, ter feito de mim um déspota esclarecido, exigir para este país um déspota esclarecido, isto não é povo para ir ao lugar sem trela curta... Sem Aljube, sem Caxias, sem PIDE, sem pressão ninguém fará nada desta maltinha, é sabido que o medo guarda a vinha... Uma PIDE com um bom edifício, bons calabouços, quase nem precisaria de agentes... E voltaríamos a crescer 6% ao ano como no tempo do malfadado fascismo... O 25A foi a maior banhada que este povinho levou... E ainda batem palmas... Retrato idólatra tão bem definido do que têm sido as últimas décadas de despudor e oportunismo que as palmas não imagino.

Deliramos rumo à utopia há quarenta anos, já é tempo de acordarmos, isso e o uso do politicamente correcto na condução de um povo que alimenta a ilusão de ser um povo desenvolvido e esclarecido está a matar-nos. Pobre povo… Nação valente... Onde estás, para onde vais ?!!! Estás endrominada, obnubilada com o purguesso, os direitos adquiridos, as liberdades e garantias, mas és piegas, e esqueceste os deveres, passas os minutos a queixar-te... Falta-te estoicismo, faltam-te hábitos espartanos.... 

Estou convicto não ser uma boa solução o caminho que apontei, mas vejamos, temos uma taxa de desemprego que o Estado Novo nunca teve nem nos piores momentos, temos uma taxa de crescimento vergonhosa para esgrimir contra uma taxa média de 6% que o Estado Novo apresentou durante décadas, temos uma dívida maioritariamente nos bolsos de corruptos que nos vai condicionar a vida durante cinquenta anos, o Estado Novo não deixou divida, deixou ouro às toneladas, o pouco que temos feito saiu caríssimo e custou-nos os olhos da cara, um opróbrio. O lírico TGV custou-nos 150 milhões e nem passou de uma ideia, a Ponte Salazar foi feita no prazo, sem derrapagens nem aumento de custos, haja vergonha,. Teremos que erguer novamente como nosso o velho lema corporativista, um por todos, todos por um, todos pela nação, nada contra a nação. O resto são cantigas, embarrilaram-nos com o 25 de Abril, a democracia, como as pérolas, não é para todos… Acenaram-nos com a ilusão...

PRESERVAÇÃO ...

"Chama-se liberdade o bem que sentes,
Águia que pairas sobre as serranias;
Chamam-se tiranias
Os acenos que o mundo
Cá de baixo te faz;
Não desças do teu céu de solidão,
Pomba da verdadeira paz,
Imagem de nenhuma servidão!"


Miguel Torga