sexta-feira, 9 de março de 2012

115 - ACOMODAR-ME...



Olá amiga !! Tas bem ??? Espero que sim, eu na maior, gozando bué este sol que se espraia nas planícies.
Esta conversa seria curta, não fosse eu querer com ela provar-te que há muito tempo penso como ainda hoje penso, só que agora com maior proveito.
A foto que tanto riso te provocou e te envio em anexo é velha de bem mais que duas décadas, e se bem me lembro, de quando abandonei uma promissora carreira no comércio e serviços, era bancário, e me dediquei ao ensino das então futuras gerações à rasca deste país, dos então futuros políticos, prestidigitadores, malabaristas, oportunistas, sacanas, empregados e empregadinhas de super’s, advogados, ladrões, policias, pedófilos, modelos e tutti quanti.
Como podes deduzir pelo sorriso nas fotos, rejubilei então, (agora rebolo-me de gozo e prazer) com o excepcional horário de vinte e duas horas semanais e inerentes tempos livres, coisa a que não estava habituado mas de que rapidamente aprendi a não prescindir.
Agora é um direito adquirido e ai de quem mo queira roubar !
Talvez hoje já entendas o meu desabafo durante o jantar de Carnaval, nunca fiz tão pouco nem ganhei tão bem, o que é verdade, para além de responsabilidades nenhumas, nem satisfações a dar a ninguém.
O ensino é o céu na terra !
Um céu que a MLR primeiro e agora o parvalhão do Nuno Crato nos querem retirar ! É o tiras ! Que para isso temos felizmente um sindicato a sério ! Direitos são direitos ! Connosco não se brinca !
Aliás, se o Nuno nunca tivesse estudado nem trabalhado lá fora, na estranja, já lhe teríamos dado a volta ao miolo e comido as papas na cabeça…
Se o país tá mal peçam contas aos gestores e aos políticos, esses sim, que para além de se abotoarem, há trinta e sete anos que nem olham para mais nada que não o seu umbigo e, que eu saiba, não vejo os profs enriquecerem assim de um dia para o outro.
Temos a nossa capelinha, a nossa classe, os nossos direitos, e essa é a nossa vidinha, não nos roubem direitos arduamente conquistados e ficaremos sossegadinhos no nosso cantinho.
Parece haver quem somente saiba roubar o pouco ou muito que os outros tenham… Eu não me queixo, estou com bué de anos disto, com horário reduzido e lugar de General devido a tempo de serviço… cousa que mui demorou a conquistar e de que não abdico ! Ora essa !
Estou pensando reformar-me sabes ? As pressões actuais sobre os profs e sobre as escolas não auguram nada de bom, e não estou para aturar isto, meninas e meninos malcriados por um lado, e esta de nos quererem pôr a trabalhar por outro, são demasiadas insolências !
Que venha quem não consiga ou saiba fazer mais nada que isto foi chão que já deu uvas. O país tá cheio de desempregados, alunos nossos, já nos deram de comer e agora não há para eles….
Há mais de trinta anos que ninguém nos diz nada, a não ser pra desconsiderar os profs, e repentinamente ainda desatam a chamar-nos malandros e todos os nomes ? A dignidade tem limites !
O Góis vai reformar-se, e eu vou com ele, porque sem ele decididamente esta escola nunca mais será a mesma, disso tenho eu a certeza.
O Góis tem sido um amigalhaço da malta toda pá ! Há mais de trinta anos que todos votamos nele ! Sempre !
E merece bem os 3.900 euros com que se vai reformar. Imagina ! Nem ele alguma vez sonhara com isso !
Veio para a escola em 78 ou 79, jovem, ensinar horticultura, andava desempregado e nada mais tinha que o curso de comércio, hoje o 9º ano, para além de saber semear umas couves ( nessa altura, na falta de licenciados contratavam-se profissionais manuais, carpinteiros, hortelões, marceneiros, abegões, electricistas, mecânicos, dactilografas, e tutti quanti ) e a malta fez como ainda hoje a gaiatagem faz para eleger o chefe de turma, que vota no mais parvo ! Votámos no Góis ! ( quem sabe se é assim que elegemos os primeiros ministros… )
Já naquela altura ninguém queria trabalheiras ! Por isso votámos no Góis que além do mais parvo estava com o emprego periclitante, e assim ficou agarrado que nem lapa a rocha, nos cornos do touro mas com emprego seguro …
Ele, sem emprego certo, amochou e foi aguentando e ganhando prática, a experiência é mãe de todo o engenho como é sabido…
Lá se foi aguentando, fazendo jeitinhos à malta e a malta votando nele ! Ele ganhou um emprego com que nunca sonhara, e nós quem nos tape as faltas e cubra as asneiras… isto sim é coesão ! Simbiose !
O Góis atravessou momentos perigosos, como em meados dos anos oitenta, em que o Ministério pretendeu acabar com os professores sem licenciatura. Mas o sindicato da classe impôs-se e foi negociada uma situação, dados três anos aos profs para se profissionalizarem, acabarem as licenciaturas, e aos “profissionais” como o Góis, a hipótese de se reconverterem tirando meia dúzia de cadeiras didáctico-pedagógicas.
Tirar… deram-lhas… Assim fez ele e hoje tem um diploma mais verdadeiro que o de certos engenheiros que a gente sabe.
O Góis habituou-se a ser director e tinha veia pr’aquilo !
Homem comedido, nunca num seu discurso lhe ouvi mais que meia dúzia de palavras, palavras que logo passava aos colegas professores, colegas que não se cansava de elogiar e sem os quais, afirmava sempre, a escola não teria razão de ser.
Vai reformar-se com júbilo e sem que mais ninguém a não ser os colegas chegados o saiba incapaz de articular uma frase mais que meio minuto ou um discurso com mais de vinte palavras.
Se não tivesse singrado no ensino, o Góis teria decerto tido sucesso no teatro. De boca fechada não saía asneira, e não lhe exigissem nem um pouco mais que monossílabos ! Daí o seu enigmático low profile e homem de poucas falas. Era contudo uma referência no bairro onde vivia, na taberna que frequentava e um orgulho para a mulher e para os filhos.
Fez bem, orientou-se. Orientou-se e apoiou-nos, e nós soubemos reconhecer essa disponibilidade votando sempre nele.
É um director conhecido, reconhecido, considerado e invejado !
Decerto teria igualmente tido sucesso na politica !
Ele ! Ele que o que melhor fazia era nada e coisa nenhuma !
Um amigão de todos era o que ele era, um tipo porreiro ! Porreirolas.
Nunca mais teremos outro assim, até pk agora querem responsabilizar os directores e a coisa chiará mais fino.
Não quero ser apocalíptico, mas aposto que a mama se vai acabar.
Boa altura para me reformar não achas ?
O país anda tão mal que mais dia, menos dia nos irão obrigar a trabalhar.
Nesse dia espero já cá não estar e andar a banhos nas Seicheles !
Bom jantar !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bjssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
Muitosssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

terça-feira, 6 de março de 2012

114 - ESTA É A DERRADEIRA VEZ QUE TE FALAREI DO MEU AMOR


Logo eu... eu que perdi meus olhos, nos olhos teus
Que em ti, me transformei,
desprezei o amor próprio,
Em ti, esqueci de mim,
revia-me em teu rosto
Suportando essa fragmentação temporal e emocional
Arrastando meu deserto sem oásis, tendo miragens
Mirando olhos que não me viam,
mãos que não me tocavam
Vozes que não me chamavam....

Eu não sabia!

Não sabia que tu, de mim nada sabias,
Tu, que eras minha vida,
que descobri-te dos meus segredos,
Tu, que enclausurou-se em minha memória
E fez-se eterno hóspede dos meus pensamentos,
A embaçar o véu do meu tempo nas surdas asas do vento.

Tu...feito ventania vestido de fantasia,

Enchendo meus dias de sonho e magia
Não ... nunca saberás da infinitude do meu amor ,
Nunca saberás que és minha vida... querido.

http://biarouquentin.blogspot.com/2012/01/esta-e-derradeira-vez-que-te-falarei-do.html postado às 17:40 de 27 de Janeiro de 2012

sábado, 3 de março de 2012

113 - "COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE" ...............


Gostar de ler não é muito diferente de gostar de futebol, ciclismo ou qualquer outra ocupação de algum do nosso tempo livre. Evidentemente é necessário conhecermos algumas regras básicas essenciais para nos apercebermos do que estiver em jogo. Uma primeira experiência frustrada pode ser negativa para a opção que vier a ser feita por uma ou outra ocupação dos nossos tempos de lazer.

Tive a felicidade ou a sorte de quando jovem me ter deparado com leituras que fixaram o gosto ainda mantido pela leitura, mas esse feliz acaso não sucede lamentavelmente com todos nós. Existe quem conheça e bem, todas as regras deste ou daquele desporto, desta ou daquela ocupação, com os livros passa-se o mesmo. Há que conhecer os jogadores / desportistas, ou escritores, os seus melhores lances ou livros, o desporto que abraçaram ou o género, como convém conhecer as suas melhores performances ou obras, os troféus arrecadados, vulgo prémios literários, pelo que quando menos damos por isso estamos a discuti-los na praça pública com os amigos, defendendo ou atacando atitudes, comportamentos, a justiça ou a beleza do que vão dando à estampa, resumindo, criticando, analisando, (e aprendendo com isso) os valores, sentimentos e conhecimentos que as suas obras nos transmitem ou ensinam.

Como sucede com qualquer desporto ou ocupação de tempos livres tiramos da leitura prazer, porventura acrescido, já que pela nossa mente perpassam cenários e personagens não igualados ainda pelas mais refinadas tecnologias do cinema. Gosto de relembrar séries de obras e escritores, não totalmente escolhidos ao acaso, antes fruto da minha disposição ou de alguma circunstancia momentânea e eu entenda serem ideais para que, se seguirdes os meus conselhos de leitura, não vos sentirdes defraudadas (os) com as expectativas criadas para que podeis gozar de tempos prazenteiros, quiçá até cativadas (os) para hábitos de leitura nunca tidos, devido ao simples desconhecimento de quanto pode ser boa a leitura.

Hoje falaremos de uma escritora mexicana, durante muito tempo considerada autora de uma obra só, mas que viria entretanto a publicar uma segunda (quanto a mim mero aproveitamento literário do êxito estonteante conseguido com o primeiro livro, fenómeno que se vai tornando habitual e contra o qual temos que estar atentos), e de quem sei ter sido lançada uma terceira obra, cujo título não lembro agora. Trata-se de Laura Esquível, autora do celebérrimo romance “Como Água Para Chocolate” e posteriormente de “ A Lei do Amor”, de que não gostei, ambos editados pela ASA. Nascida em 1950, foi professora, escritora de obras teatrais dedicadas à infância e aos trinta e cinco anos enveredou pela difícil arte da escrita de guiões para o cinema.

“Como Água Para Chocolate” o seu primeiro romance, deu-lhe fama internacional, pois foi traduzido em mais de trinta línguas e publicado em cerca de oitenta países, tendo vendido mais de quatro milhões de exemplares em todo o mundo. Fama e fortuna, pois permitiu- lhe em 1994, ganhar o ABBY ( American Booksellers Book of de Year), prémio pela primeira vez atribuído a um escritor estrangeiro. Já anteriormente Laura Esquível havia arrebatado o Prémio ARIEL, uma nomeação da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas do México, pela escrita do guião do filme “ Chido Guán, El Tacos de Oro”, tendo o filme produzido a partir do seu primeiro romance sido igualmente premiado no Festival de Huelva, aqui ao lado na vizinha Espanha.

A propósito da “Lei do Amor”, o tal de que não gostei, um dos mais famosos críticos mundiais afirmou ter a obra sido; “Um dos textos mais sugestivos, mais brilhantemente escritos, mais inteligentes e mais arrebatadores dos últimos tempos”, o que nos deve servir para colocar de atalaia quanto a toda e qualquer crítica ou crítico… e quanto a mim claro…

No concernente à primeira obra, a que lhe deu fama e fortuna, “Como Água Para Chocolate”, cuja trama roda à volta da cozinha, cada capítulo abre com uma receita culinária, de tudo o que menos conta e interessa no livro, debruça-se essencialmente sobre pensamentos e comentários tidos e ditos à volta dessa mesa de cozinha, divisão que na época retratada pela obra ocupava o espaço social por excelência, espaço que hoje atribuímos às salas de estar.

São os pensamentos e comentários dos comensais quem dá corpo ao livro, nos prendem com as histórias dos amores e desamores, seus risos, prantos, paixões e ódios. Celebrando o triunfo da alegria e da vida, sobra a tristeza e a morte, a leitura desta obra é um prazer para os sentidos e um hino à liberdade criativa da “mulher”. Não deixem de ler, é gostoso como chocolate !!!!!